terça-feira, 30 de setembro de 2008

Novas amizades

Conheci, por intermédio da minha amiga Naira Hofmeister, um escritor e poeta cubano chamado Felix Contreras. O homem tem 67 anos e sua cultura corresponde à idade. Em algumas mesas de bar (Naval e Lancheria do Parque - que caiu nas graças do cubano), Contreras contou-nos histórias de fazer inveja. Além de ter viajado por muitos lugares, conheceu gente importante que escreveu a história da América Latina na última metade do século - Luis Carlos Prestes, pra citar um exemplo. Mas não só por isso ouvi-lo é um grande prazer. Contreras é pobre, poeta, socialista e viveu muito... fica difícil imaginar pessoa mais interessante para se conversar. Em Cuba é amigo de todo mundo. Falamos mal - ele, principalmente - de Pedro Juan Gutierrez, falamos bem de Reinaldo Montero (As Afinidades - releitura das Afinidades Eletivas, de Goethe) e de muitos outros escritores, poetas e artistas em geral. Falamos de mulheres, claro. Contreras, do alto dos seus 67, podia ser - a controgosto, imagino - um personagem de um livro escrito em parceria por Pedro Juan e Philip Roth. Do Pedro Juan, sei o que ele pensa, do Roth, esqueci de perguntar... que pena. Contreras nos brindou, no exíguo espaço entre mesas do bar Naval, com uma imitação de como as brasileiras caminham. Segundo ele, as bundas femininas daqui passam nas ruas numa eterna cadência de sim-e-não. Nádega pra cima, nádega pra baixo, sim, não, sim, não. Sua imitação foi hilária e um comentário assim, vindo de um cubano (por que dizem que as cubanas "también tienen culo"), me faz pensar que realmente somos privilegiados no quesito "bunda". Vejam só... bunda e literatura, bunda e arte. É incrível como estas coisas andam juntas.
Dei uma pesquisada na internet e encontrei três livros de autoria do Contreras. Poesia e música. Um, publicado no Brasil, se intitula "Eu Conheci Benny Moré". Roubei a sinopse lá do site da Livraria Cultura: Benny Moré foi a culminação de todo caminho percorrido pela arte musical em Cuba. Sua voz passava da interpretação de uma canção suave a um guaguancó, quase sem se notar. Conhecido como o Bárbaro do Rítmo. Percorreu a frente de sua tribo, assim chamava a sua orquestra, muitos países Americanos. Este livro conta a sua vida e a sua trajetória artística.
Ah, Contreras também é uma autoridade em tango. Nos informou que o tango mais bonito que já ouviu foi composto em Porto Alegre. Eu, infelizmente, não lembro direito da história (estava muy borracho, entonces). Parece que um grande compositor passava por aqui quando ouviu uma linda voz feminina cantando. Foi atrás e descobriu quem era. Para esta mulher - que se chamava Maria Helena - compôs "Malena" (sim, é a mesma do autógrafo ilustrado aí em cima). Histórias iguais a esta, Contreras tinha as pencas para contar. Pero, ahora ya se fué... foi pra São Paulo visitar o filho. Deixou comigo e com o meu colega Gabriel (o doutor) um cartão de visitas com seu endereço e o convite para visitá-lo. Putz, conhecer Cuba seria muito legal. Acho que vou. Um dia...
Ei, Contrerito... vaya con Díos (si te gusta). Um abraço.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Trabalho, trabalho, trabalho...

Tô fazendo uma agenda lá na agência (fazendo no sentido de confeccionar, não de agendar). Caracas, nunca imaginei que fosse tão trabalhoso! Agora tô sabendo tudo de datas comemorativas, solstícios, equinócios, afélios e periélios. A agenda é temática: arte, cultura e resistência. Então tem muita informação legal, letras de música, dicas de livros e filmes. Vai ficar bonita depois de pronta, e eu vou ter envelhecido uns dez anos, mas tudo bem...
Enquanto isso meu pobre bloguinho fica meio largado. Tô postando isso aqui por que minha chefe não veio pela manhã (sim, sou igual a todo mundo). É um desenho (inacabado) que fiz pra tal agenda. Vai ilustrar o início da primavera...
Buenas... o escravo aqui vai voltar ao trabalho agora.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Nostalgia...

Bill Watterson parou de fazer as tirinhas de Calvin & Hobbes (ou Haroldo) no dia 31 de dezembro de 1995. Perdemos os dois carinhas mais legais do pedaço.
Não sei o que o autor anda fazendo, mas penso em como ele consegue resistir a um impulso incontrolável que deve bater de vez em quando - sempre que uma idéia muito engraçada surge e ele percebe que cairia como uma luva numa tira do espertíssimo Calvin e seu amigo felino imaginário. Que outros projetos pode ter o criador de Calvin e Haroldo, porra?
Na verdade sei. O Watterson escreve livros também. Há alguns anos li um romancezinho (inho por que era pequeno, não estou sendo pejorativo) de sua lavra. Era bom até. O título é "Partículas de Deus", e saiu pela Ediouro. Uma edição bem bonita, por sinal. Era um pequeno tratado metafísico-ontológico romanceado. Leitura rápida e indolor. O pior é que a idéia central do livro já tinha me ocorrido há algum tempo. Não é uma elaboração das mais complexas e, a grosso modo, pode-se dizer que está presente em muitos outros livros (no Eureka, de Edgar Allan Poe, por exemplo). Pra um agnóstico de visão despreocupada e honesta, tá de bom tamanho.
O Watterson é um cara legal. Parece que escreveu vários outros livros (nenhum me caiu nas mãos). Parece também que dá palestras e tal. Bom, pelo legado em quadrinhos que deixou, sou obrigado a esperar que ele esteja bem. É o mínimo que posso desejar... por que eu fico muito bem lendo as tirinhas do Calvin. Genial.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Obrigado, Bandeira!

Não sou um bom leitor de poesia, nunca escondi isso de ninguém. Prefiro a prosa. O Caetano Veloso - e muita gente mais - acha que a poesia é superior. Eu desconfio que é mesmo, mas continuo prosaico. Sou capaz de gostar de alguns poetas (Fernando Pessoa, Ferreira Gullar, Drummond e Manoel de Barros, principalmente), mas os poetas maiores me incomodam terrivelmente. Já disseram que poesia não é pra ser entendida, mas sentida. Isso não me basta. Leio alguns trechos de T. S. Eliot, outros de Rimbaud, outros ainda de Rilke e, como entendo muito pouco, acho chato. Já li de cabo a rabo Uma Temporada no Inferno e Illuminations, do Rimbaud, pra ver se na insistência alguma coisa em mim despertava, mas foram horas de leitura estéril. Tenho lá em casa muitos livros de poesia sobre os quais pretendo um dia - quando tiver evoluído o bastante - me debruçar. Por enquanto permaneço com os romancistas, contistas, dramaturgos e cronistas de sempre. Uma prosa poética até encaro.
Mas, vejam só, de vez enquanto alguma coisa acontece no meu coração. Ontem comprei um livro do Manuel Bandeira intitulado "Meus Poemas Preferidos". Trata-se de uma seleção que o autor fez de alguns de seus melhores poemas com outros que traduziu. Tem uma turma bem eclética lá. Dos poucos que eu conhecia (pelo menos de nome), cravei os olhos num poema de Emily Dickinson intitulado "Beleza e Verdade". Amiguinhos, creiam, é lindo. Lembrei então que tinha um pequeno volume da Emily publicado pela L&PM Pocket e corri procurar. Beleza... lá estava o tal poema, em português e no original (ah, as edições bilíngües). Não, não entendo muito de inglês, mas valorizo este tipo de coisa por que a poesia, muito mais que a prosa, agrega um valor adicional pela sua musicalidade, ritmo, rimas, beleza de certas palavras, etc, etc, etc. Por melhor que seja uma tradução, é sempre uma outra obra. E eu posso vir a aprender a língua de Milton qualquer dia, ora essa.
Bom, o poema fala, entre outras coisas, que beleza e verdade são iguais. Eu, intuitivamente, sempre gostei desta idéia (e juro, já gostava antes de ter lido essa mesma afirmação num diálogo platônico - Górgias ou Teeteto). Claro que tenho uma dificuldade enorme pra explicar coisas como a Jennifer Lopez ou a Jessica Alba - seres nos quais vejo muita beleza, mas pouca ou nenhuma verdade - mas isso não tira nem um pouco da beleza (e da verdade?) do poema em questão. Portanto, para enriquecer a vida de todos os meus amados amigos que de vez em quando passam por aqui, eis o poema:

Beleza e Verdade

Morri pela beleza, mas estava apenas
No sepulcro acomodada

Quando alguém que pela verdade morrera

Foi posto na tumba ao lado


Perguntou-me baixinho o que me matara:

"A Beleza", respondi.

"A mim, a Verdade - são ambas a mesma coisa,

Somos irmãos".


E assim, como parentes que certa noite se encontram,

Conversamos de jazigo a jazigo,

Até que o musgo alcançou nossos lábios
E cobriu os nossos nomes.


Emily Dickinson

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ich habe nicht gewolt!

A Alemanha já deu ao mundo gente do calibre de Kant, Goethe, Beethoven e Marx (e nunca nos esqueçamos de Claudia Schiffer). É um país muitíssimo interessante, na minha humilde opinião. Tenho a impressão de que todo mundo por lá anda pelas ruas elaborando sistemas filosóficos, compondo música erudita ou construindo carros arrojados e máquinas de alta precisão. E, se as pessoas são mais inteligentes em Deutschland, nada mais natural que os cachorros também o sejam, não é mesmo?

(Fiz três cadeiras de alemão e não lembro mais de nada. A frase lá do título significa "eu não queria que tivesse acontecido", e foi tirada de um conto de Bernard Shaw que li numa coletânea de autores ingleses. Não tem nada a ver, mas foi o que se pode arranjar. Perdão Claudia Schiffer!).

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Seus problemas acabaram!!!

Resolvi abrir pra galera o porquê de eu ter uma vida tão bem sucedida: tenho um guru espiritual. Pai Ambrósio. Ele, como se pode ver no cartaz, joga cartas, bingo e bilhar... huahuahuahauhauhauhauhauhauahuahuahauhauhauhauahuahauhauhauahua...
Cara, que coisa mais engraçada! Obrigado à minha amiga Patrícia Spindler pelos emails que me manda.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Entre Arcádios e Aurelianos...

Terminei de reler há algum tempo o Cem Anos de Solidão. Na primeira vez que li tinha 17, e isso já faz quase duas décadas. Livros são uma coisa nobre, mas as atitudes de quem gosta deles, nem sempre. Eu, por exemplo, roubei este livro do García Márquez. Estava de caseiro pra uma amiga e só me interessei pelo volume por que não tinha nada pra fazer. Lia apenas quadrinhos naquela época e, apesar de ter muita coisa boa no universo dos Comics, não era o caso dos meus gibis, devo admitir. O "Gabo" veio me salvar. O que principalmente me chamou a atenção foi o título. Não é pela capa que se conhece um livro, mas um bom título ajuda bastante. Neste caso foi crucial. Abri na primeira página e começou umas das experiências mais prazerosas que já tive. Como minha temporada de caseiro estava por terminar, mas a leitura não, tomei “emprestado” o volume. Crime sem perdão, eu sei. Mas paguei com juros o delito. Durante meus já longos anos de relação com a literatura, tive muitos livros perdidos. Livros que eu sabia que não devia emprestar, mas emprestei e nunca mais voltaram. Dentre esses vários títulos, o mesmo Cem Anos de Solidão.

Bom, quanto ao livro: a Macondo de GGM - é por demais rica, bonita e grande para que eu me atreva a fazer uma resenha neste humilde blog que não se propõe aprofundar assunto algum. Todavia recomendo (veementemente) aos poucos amigos que me lêem que por nada nas suas vidas deixem de conhecer Cem Anos de Solidão. Eu não sei como pude esperar vinte anos para relê-lo. Quer dizer, sei: releguei García Márquez a um segundo plano quando tive contato com outros escritores que também mexeram muito com a minha cabeça. Imediatamente após o impacto de Cem Anos, iniciei a leitura de Relato de Um Náufrago e não gostei. Aí fiquei com aquela impressão de que o colombiano era escritor de um livro só. Muitos anos depois vim a ter em mãos A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada. Li o primeiro conto e também não me impressionou. Neste meio tempo eu já tinha me apaixonado pelos russos (principalmente), ingleses, franceses, norteamericanos e outros (brasileiros inclusive). Voltei às boas com o Gabriel quando em 2004 uma namorada me trouxe de Buenos Aires o primeiro livro que li em espanhol, lançamento mundial do último romance do nobel de literatura: Memoria de Mis Putas Tristes. Gostei bastante. Romance de um escritor maduro, sereno, em pleno domínio do seu ofício. Mas trata-se de algo completamente diferente de Cien Años de Soledad, obra que permanece incomparável. Eu, cada vez que vendo um Cem Anos de Solidão, fico pensando no deleite que o comprador vai experimentar nos próximos dias. Quem não tem o coração empedernido e a sensibilidade completamente embotada, vai gostar com certeza.

Ta dada a dica.

Ah, e se pedirem um livro emprestado, não façam o que eu fiz. Devolvam!