quarta-feira, 14 de maio de 2008

Eu, meu pai, Vera Fischer e Carlos Zéfiro

Em 82 eu tinha dez anos de idade. Recém tinha vindo de Cruz Alta para a “grande” Porto Alegre, mais especificamente para Alvorada, mais especificamente ainda para o Jardim Nossa Senhora Aparecida, na época um conjunto habitacional tinindo de novo onde todos os felizes moradores se esmeravam para ter o gramado mais bonito da rua. Lá comecei a freqüentar a igreja protestante Aliança Cristã e Missionária, o que era uma espécie de paliativo para a maior parte da família, bons metodistas sem uma igreja do senhor John Wesley para realizar seus cultos. Também freqüentava os campos e quadras do conjunto, pois era o dono de uma linda bola “Sócrates”, número 4, vermelha e branca. Acreditem ou não, eu jogava muita bola. Estava então na quinta série, tinha muitas dificuldades com Matemática e era apaixonado pela professora de educação artística. Não quero me gabar, mas acho que a recíproca era verdadeira. Um dia presenteei-a com uma história em quadrinhos colorida que eu tinha feito (algo com um tubarão musculoso que soltava raios pelos olhos e enfrentava os mais diversos perigos do fundo do mar) e ela me deu uma revista do Asterix (Asterix e Cleópatra) que li numa sentada e que foi, provavelmente, um dos melhores presentes que já recebi. Fora isso eu fazia pandorgas em série que se recusavam a sair do chão por defeitos de aerodinâmica e vivia nos matos à volta do conjunto catando peixinhos, girinos e mudas de samambaia que, invariavelmente, sobreviviam menos de uma semana. Eram bons tempos (menos pros peixinhos e girinos, claro).

Mas a razão desta postagem é outra. Vamos a ela: naquela época meu pai tinha ido trabalhar no Rio de Janeiro e, quando voltou, veio contando as coisas mais incríveis da Cidade Maravilhosa. Tinha visto tal atriz na Praia da Barra, tinha visitado o Pão de Açúcar, o Corcovado, etc, etc. Eu, que já estava bastante deslumbrado com o tamanho de Porto Alegre em relação à Cruz Alta, fiquei imaginando o quão fantástico deveria ser o Rio de Janeiro. Mas eis que meu pai, preocupado com a instrução do filho, puxa da bagagem uma PLAYBOY COM A VERA FISCHER (esta aí de cima). O ensaio da moça tinha fotos ao ar livre, com muitos dos pontos turísticos do Rio ao fundo. Meu pai ia virando as páginas e dizendo: “isso aqui é Ipanema... e ali, ó, o bondinho, e essa é a lagoa Rodrigo de Freitas...”. Eu ia dizendo ahã, ahã, mas é claro que meus olhos estavam cravados mesmo era em outras coisas que eu nunca tinha visto e que, não é pra me gabar, até hoje acho mais bonitas do qualquer ponto turístico do Brasil ou do mundo (eita, esse é macho!). A Vera Fischer tinha (e acho que ainda deve ter) uma (por que não dizer com todas as letras?) BUCETA LINDA. Quer dizer, hoje eu sei que era linda em relação a muitas outras, mas na época eu teria achado linda de qualquer jeito. Existem pessoas que dizem que são todas iguais. Buenas, não são, acreditem. É claro que meu pai fez aquilo mais por uma espécie de solidariedade masculina e boa intenção paterna do que pra me mostrar o Cristo abraçando a Guanabara. Hoje acho engraçado o artifício. Pensando bem, ele foi mais infantil que eu, mas agradeço ao velho: ele me mostrou a minha primeira mulher pelada de verdade. Eu já andava fazendo minhas pesquisas por conta própria, mas as mulheres nuas que eu vira até então, embora muito me emocionassem, careciam de cores, entre outras coisas. Tinha, devidamente escondidas, as minhas revistinhas do Carlos Zéfiro (o que me faz perceber que me voy poniendo viejo). Todo mundo sabe: são desenhos bem primários, muitas vezes toscos, mas caramba!!!!, me sinto privilegiado por ter pego os estertores do “catecismo” do mestre Zéfiro. Não que eu seja radicalmente contra a gandaia que hoje está aí instituída, mas o sabor da coisa proibida que era desvelada por aqueles quadrinhos não tem preço. Só quem passou por isso sabe o valor dos rabiscos pornográficos daquelas revistinhas de bolso.

E foi isso. A Vera Fischer veio e depois delas vieram muitas outras. Continuam vindo até hoje e virão até não sei quando (espero que até o fim dos meus dias). Parafraseando Buñuel (por que eu sou cabeça pra caralho): esse obscuro objeto do desejo. O ano de 1982 e os meus 10 de idade já vão longe, mas continuo sendo aquele guri completamente estupefato frente à visão de pêlos pubianos negros e fartos como os da Verinha. Que lindinho, não?

2 comentários:

Anônimo disse...

Maisá Telminho, abrindo seu coração hehe
Jorge

Telmo disse...

Um coração que é um latifúndio, diga-se de passagem... re, re, re.