Escrevi este texto abaixo como resposta ao comentário da minha amiga Luciana. Mas, como ele está dentro do espírito das coisas que quero falar sobre a Feira do Livro, resolvi publicá-lo aqui também.
Lu, vai por mim... bairrismo é ruim. Tudo bem que temos coisas boas aqui - e não tô concordando com todos os nomes que tu citou -, mas tá cheio de coisas boas (e talvez melhores) no resto do país também. Mundo a fora, então! O bairrismo nos limita. E a mim, porque fui muito bairrista, envergonha. Fazer a defesa de alguns escritores só por que são daqui é negar que a literatura transcende os caracteres locais, que um livro bom trata é do universal. O Tchekhov dizia que quem cantava sua aldeia cantava o mundo. Isso pode ser verdade. Mas não é todo mundo que sabe cantar, que tem a sensibilidade pra extrair essa universalidade da alma dos seus aldeões. A maioria do pessoal do "Clubinho Gaúcho dos Escritores" é meio "desafinada", na minha opinião. Claro que tem gente boa por aqui, mas tem gente boa por lá também. Se o teu critério pra preferir os daqui é unicamente o chão em comum, isso vai te privar de muitas coisas legais. O bairrismo é um atestado de espírito um tanto tacanho (não quero te ofender - veja bem: isto é um praticamente um mea culpa). Me livrei deste mal lendo. É um processo natural, a gente vai refinando a busca. Estou dizendo que tu não está refinando tuas buscas? Não. Tuas referências são muito mais poéticas do que as minhas (Carpinejar, Quintana, Paulo Hecker - cuja prosa, crônica e inteligência eu admirava muito, mas desconheço a poesia). Talvez o teu desenvolvimento seja um OUTRO refinamento. Acho que tu ainda não pensou seriamente no que significa “bairrismo”. Alguém com o teu perfil, com as leituras que tu já fez, não pode ser bairrista. Minha briga é com a tua frase: “gaúcho tem mais é que ser bairrista mesmo”. Isso tá errado. Não existe tanta gente boa quanto o teu “etc, etc, etc” sugere. Vou escolher um bairrismo pra mim, tá? Quero ser irlandês por causa de James Joyce, Samuel Beckett, Oscar Wilde, W. B. Yeats, Jonathan Swift e Bernard Shaw. Ou argentino por causa de Borges, Cortázar, Sábato e Bioy Casares (precisa mais que estes?). O mundo inteiro conhece esses caras. Eis aí, aparentemente, bons motivos pra ser bairrista. Mas quando a gente lê os amiguinhos citados, percebe que eles não são dos seus países... são de todos os lugares. Nesses momentos os bairrismos e, inevitavelmente, os escritores menores (pra não dizer medíocres), viram fumaça. Existe a boa e a má literatura, independente do papel que cumpra uma literatura mediana no desenvolvimento das pessoas. Não tô querendo dizer que só se pode valorizar a literatura gaúcha se estiver saindo daqui o próximo Shakespeare, mas sim que não dá pra ficar só no consumo interno, enaltecendo o nosso clubinho. Por que ele é pequeno, beeeem pequeno. E também porque tem alguns caras muito bons fora do Estado e principalmente fora do país. Deus me livre de estar cometendo alguma injustiça com este comentário (assim como “bairrista”, me envergonharia terrivelmente a carapuça de “preconceituoso”), mas ainda que bairrismo fosse algo justificável, eu vejo bem poucos motivos para adotá-lo por aqui.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Diário da Feira (capítulo 2)
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2 comentários:
Eu concordo, bairrismo é ruim.
Adorei.
Sabe pq eu defendo o Bairrismo Gaucho?
Já assistiu jogo de futebol entre time gaucho e paulista, por exemplo?
Já viu como os caras do centro do pais estão sempre tentando nos diminuir?
Já viu como os gauchos nas novelas, por exemplo, são sempre uns grossos machistas?
Pq acham que o Jorge Amado é melhor que o Erico?
São estas coisas que me fazem achar bom ser "barrista", no sentido de valorizar as nossas coisas.
Afinal, estamos falando de gente como Lupicio Rodrigues, Walmor Chagas, Vitor Ramil...Para fazer um rapido giro por outras áreas...
Mas o melhor dos bairrismos é quando tu lês um Cortazar, ou um Galeano, ou um Maiakóvski, e abres um sorriso porque te identificas, e naquela momento teu bairro é a Humanidade toda!
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