Buenas, de qualquer maneira, tá ficando desinteressante esse
meu esquema de venda de livros. Ainda mais que os sebos antes sem noção onde eu
garimpava agora estão mais antenados para o valor de alguns títulos. Sim, é uma
espécie de picaretagem isso que eu faço, mas mesmo assim, muita gente foi feliz
com ela. Desde 2007 vendo livros pro cantos mais remotos do Brasil. Meus preços
lá no EV são os mais baixos. Um cara lá do Piauí comprou um livro que ele
queria muito e pagou metade do que pagaria numa loja de novos ou mesmo no EV.
Voltei pra casa. Fiz um rango. Botei rolar – aleatório - uma
seleção de músicas no computador (Bob Dylan, Johnny Cash, Crosby, Stills &
Nash, George Harrison e a trilha sonora de I’m Sam) e fui organizar uns
desenhos que quero usar pra fazer estampas de camiseta (minha idéia fixa do
momento pra virar chefe de mim mesmo). Quando as músicas chegaram ao fim, tentei
tirar um som que a minha filha pediu: I’m Yours, de um tal de Jason Mraz. Ela
quer gravar um vídeo e apresentar na festa de 15 anos de uma prima (que adora a
música). Coisa simples, um reggaezinho com basicamente quatro notas, ainda
assim tô apanhando pra tirar. Na música sou um embuste total. Mas o aniversário
é em setembro. Até lá, sai.
Desisti do reggae e decidi olhar o último episódio do Big
Bang Theory, que toda semana um colega de trabalho baixa. As legendas (mesmo
pra mim que sou uma anta em inglês) às vezes deixam a desejar, mas é legal
mesmo assim. Sempre rio muito, é genial. Depois fui cortar as unhas dos pés,
que já estavam quase furando as meias (odeio cortar as unhas dos pés –
principalmente a do dedão direito, que cresce encravada). Depois fui passar fio
dental por baixo de uma ponte fixa que estou usando. Os dentes que sustentam a
coisa foram desgastados e ficaram sensíveis. Dói usar a porra do fio dental.
Aliás, também odeio passar fio dental. Depois fui arrumar o quarto, que tava
foda. Depois lavar uma louça e torcer umas roupas que tavam de molho há quatro
dias. Lavar roupa é um saco! E quando vi já era bem tarde. Hora de jantar. Meu
colega de apê saiu, aproveitei pra ver um filme pornô. Me masturbei, claro.
Filme bom como há tempos não via. Atrizes bonitas e convincentes quando faziam
caras de prazer e fingiam orgasmos (tenho dúvidas se não eram orgasmos de
verdade). As cenas bem feitas (do jeito que eu gosto, pelo menos). Tinham pelos
pubianos as moças, o que não é muito comum em filmes pornô (algum imbecil, algum dia,
inventou que aquela região fica melhor depilada... tsc, tsc, tsc).
Dia cheio. Escovei os dentes e fui dormir. Meus vizinhos de
cima, monstros do inferno, fizeram barulho até umas duas da manhã. Na real até
umas três, porque teve a história de atrasar o relógio pelo fim do horário de
verão. Porra, adoro o horário de verão. Por mim, não acabava nunca. Aliás, acho
que é exatamente nas outras estações que ele deveria vigorar. Se no inverno
anoitece mais cedo, então é mais sensato que tenhamos a ilusão de que são 20h
quando na verdade são 19h, não concordam? Quando eu governar o mundo, isso vai
mudar.
Domingo. Acordei tarde de novo. Tomei café, de novo. Fui ler
um pouco. Terminei uma antologia de contos - organizada pelo Sergio Faraco - intitulada
“Contos Brasileiros”. Boas surpresas tive ali. A melhor delas um tal de João
Antônio e o conto “Meninão do Caixote”, extraído do livro “Malagueta, Perus e
Bacanaço” (que já possuí, mas ignorei totalmente). Duas decepções: um Moacyr
Scliar e um Sérgio Sant’Ana (dois dos maiores, mas os contos escolhidos...
fracos). Também comecei a leitura do livro “Um Escritor no Fim do Mundo”,
relato da viagem que o (também escritor) Juremir Machado da Silva fez à
Patagônia com Michel Houellebecq. Dois caras estranhos numa terra estranha (a
do Fogo), o livro pode ser interessante. Eu, já de cara, dispensaria as páginas
de fotos. Coisa muito sem graça é ver gente posando com geleiras ao fundo.
Aliás, gente posando em qualquer circunstância é uma coisa de gosto meio
duvidoso.
E no banheiro mantenho o livro “Notícias da Chácara”, do
paranaense Domingos Pellegrini. Um bom livro. Vou lendo e aprendendo coisas que
pretendo aplicar quando fugir da cidade (e dos seus debilóides) pra uma chacarazinha
em algum lugar retirado.
Já que estou falando em livros, um adendo - os títulos que
encarei desde aquele meu levantamento de todas as minhas leituras: Trilogia
Suja de Havana – Contos, Pedro Juan Gutiérrez (o primeiro dele e o melhor
dentre todos que li); O Mundo Fora dos Eixos – Crônicas, Bernardo Carvalho
(sensacional... o cara é foda); Medo e Delírio em Las Vegas – jornalismo gonzo,
Hunter Thompson (massa pra caralho, me deu vontade de usar drogas (eu, o maior
dos caretas)); O Zen nas Artes Marciais – relatos, Joe Hyams (bem legal, embora
pareça auto-ajuda) e os quadrinhos “Daytripper”, dos irmãos Ba e Moon (boooooring...
esses caras desenham pra caralho, mas suas estórias, cheias de sensibilidade e
intimismo, me dão no saco – são uma espécie de Los Hermanos dos quadrinhos, uma
coisa quase gay... e quase gay é gay demais pra minha cabeça) e 100 Balas, de
Eduardo Risso e Brian Azzarello (fenomenal, coisa boa mesmo, bem diferente dos
alardeados – e idiotas – Brian Vaughan e Mark Millar (entre outros)). Também reli algumas coisas: os quadrinhos “O
Cavaleiro das Trevas” do Frank Miller (que além de seminal é, até hoje, uma
coisa sem paralelos, sem comparações) e Prelúdios e Noturnos, do Neil Gayman
(deleite sempre garantido). Também reli os livros “Partículas Elementares”, do
supracitado Michel Houellebecq, e “Até o Dia em que o Cão Morreu”, de Daniel
Galera. Acabei relendo estes porque um belo dia me vi pegando um ônibus pra
praia logo após ter saído de um sebo onde encontrei-os por um preço bom para
revenda. Foi providencial, pois não havia pego nada pra ler. O Galera é bom
(dos três que li dele, é o que mais gosto) mas o Houellebecq, relido dez anos
depois, me decepcionou um pouco. Devo ter lido mais coisas, mas esqueci ou não
julgo digno de nota (como os quadrinhos “Bordados”, de Marjane Satrap e “Aya de
Yopougon”, de Abouet e Obrerie, por exemplo)
Bom, continuando com o domingo.
Depois de ler esse tanto, decidi sair e comprar coisas pro
almoço. Precisava de ovos. Na esquina do boteco encontro um passarinho caído no
chão. Pequenino ainda, pouco mais que um filhote. Pego o bichinho e seguro
firme para que não escape. Pretendo levá-lo pra casa e alimentá-lo com pão
(integral, com sementes) até que tenha condições de voar de novo. Ele se agita
um pouco. Passo o dedo na sua cabeça tentando acalmá-lo. Então vejo que ele faz
mais força, tenta se debater. Cogito largá-lo no galho de alguma árvore, mas
então, sem mais nem menos, ele morre. Simplesmente para de fazer força e a
cabecinha desfalece, completamente mole, para o lado. Senti uma tristeza
imensa. O bicho morreu na minha mão. É uma sensação horrível (me lembrou o
trecho do livro do Daniel Galera, onde o personagem fica observando os últimos
minutos do seu cachorro, tentando captar o momento exato em que a vida abandona
o corpo do bicho). Fiquei abatido. Larguei o corpo inerte no pé de uma árvore e
fui comprar minhas coisas. Na volta ainda olhei o bichinho, uma esperança de
que tivesse sido só um desmaio (se é que bichos desamaiam). Aos 40 anos – nunca
antes - uma criatura morreu na minha mão, que coisa estranha e triste!
Em casa fiz um rango. Pretendia nadar à tarde. Olhei o
celular, ainda com o horário de verão, e decidi ver um filme antes de ir pro
clube. Tinha no computador um documentário esperando já há algum tempo pra ser
visto: “Quem Matou o Carro Elétrico”. O nome diz tudo. Um filme sobre o porquê
de um projeto de carro movido a energia elétrica – desenvolvido pela GM – não
ter vingado. Não vou contar o filme, mas é aquilo tudo que já sabemos:
interesses das grandes montadoras, do mercado de petróleo e dos conchavos entre
políticos e grandes empresários. A filhadaputice de sempre. O curioso neste
caso é que a GM chegou a desenvolver o carro, produziu centenas deles, repassou
para clientes (satisfeitíssimos com a aquisição) e depois, quando por alguma
razão obscura resolveu abortar o projeto, retirou um por um das ruas e mandou
todos pra uma daquelas prensas que transforma carros em blocos de metal
retorcido e vidro estilhaçado. Será que existe coisa mais assustadora que um
americano engravatado? Juiz, advogado, empresário, político, publicitário...
estes tipos são terríveis em qualquer lugar, mas os americanos parecem
infinitamente piores. Sou maniqueísta, foda-se! Pra mim esses caras são o mal
encarnado (quem leu Elektra Assassina tem uma idéia do que estou –
metaforicamente – falando).
Buenas... fui nadar. No caminho passei no super pra comprar
sabonete. Depois, na rua, encontrei um ex-colega de trabalho, o Ben-hur. Estava
conversando com ele quando surgiu uma guria - amiga de um amigo – que conheci
nas famosas noites de terça, no Tutti, o bar dos cartunistas na escadaria do
viaduto da Borges. Ela disse “oi, Telmo” e eu me impressionei por ela lembrar
meu nome, algo que todo mundo esquece por achar “diferente”. Já eu não lembrei
o dela. Quando estou conhecendo alguém, lembro sempre do signo, quase nunca do
nome (claro, signos são só doze). Geminiana, essa. E bonita. Achei-a mais
bonita do que quando a conheci no bar. Já íamos entabulando uma conversa quando
ela se deu conta de que esquecera a carteira em casa. Poxa... e eu que já ia
desistindo da natação. O jeito foi me encaminhar. Esperança de ver alguma
gostosa na piscina. Mas que nada! Tava devagar. Melhor assim, talvez. Piscina
cheia é um saco. Nadei meus mil metros (crawl e costas) em 45 minutos e voltei
pra casa. Tomei um café e decidi ver um filme que o meu colega de apê emprestou:
O Expresso da Meia-Noite. Antigo, mas eu nunca tinha visto. Foi legal. Nisso
passaram mais duas horas. Depois sentei na frente do PC e resolvi escrever este
texto. Acho que estou há umas três horas nisso. E por quê? Sei lá.
Provavelmente ninguém lê uma coisa destas, só tem interesse pra mim. É uma
forma de loucura, desconfio. Sei que não sou muito normal. Desperdiço uma
energia danada em coisas infrutíferas. Agora vou fazer uma janta (leve, pois
estou com gastrite de novo), aparar minha barba, raspar minha cabeça, escovar
os dentes e dormir. Espero que seja uma noite boa de sono (com gastrite, tenho
pesadelos horríveis).
Mais um fim de semana na minha vida. Já tive melhores e já
tive piores.
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