domingo, 11 de novembro de 2012

Snikt, snikt

Então... um texto sobre o Wolverine. Pois é...
Como eu cheguei nisso? Buenas, eu tava parado aqui, olhando pras dunas e pensando: tu tá bem fodido, Telminho... teu seguro-desemprego acabou. O que tu vai fazer? Pensei, vou mandar um curriculozinho pra alguma editora grande aí. Abril, quem sabe? É... ser ilustrador da Superinteressante ou da Playboy, taí uma coisa que me agradaria. Entrei no site da editora, fui no “trabalhe conosco” e vi que tinha uma ficha enorme pra ser preenchida. Mas tá... comecei. Troço chato. Demorou pra caramba e, quando terminei, a porra do site mostrou um aviso: “seu tempo expirou”. Ou seja, tudo o que fiz foi em vão. Então, assim... de todo o coração: EDITORA, ABRIL: DESEJO QUE CAIA UMA BOMBA EM CADA UM DOS PRÉDIOS DE VOCÊS!!!
- “O que houve com a Abril?”
- “Fechou”.
A Abril fechou... HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHYUA. Sim, eu sei que sou muito engraçado.

Mas aí, pra não pirar de tanta raiva, fui ler umas coisas na internet. Vocês sabiam que vivemos na época holocena ( há 0,01 milhão de anos) do período neogeno (há 23 milhões de anos) da era cenozóica (há 65 milhões de anos)? E sabiam que antes da cenozóica existiu a era mesozóica (há 251 milhões de anos)? Na era mesozóica existiram os períodos cretácico, jurássico e triássico. Mas não acaba (ou não começa) aí. Antes da era mesozóica existiu a paleozóica (há 540 milhões de anos), com seis períodos distintos. Todas essas eras compreendem o “éon” fanerozóico. Éon é uma medida de tempo geológico que se tentou “arredondar” em 1 bilhão de anos, mas não houve consenso entre os estudiosos. De qualquer maneira é a maior subdivisão de tempo usada pelos geólogos. Um bilhão de anos!!! E antes do éon fanerozóico existiram o proterozóico, o arqueano e o hadeano. São bilhões de anos (bilhões e bilhões, como NÃO diria o Carl Sagan). É uma coisa inimaginável. É o tipo de informação que sempre me deixou muito excitado, os números sobre a idade do planeta e o tamanho do universo. Gosto de ler sobre esses temas pra relativizar minhas preocupações cotidianas e comezinhas. Arranjar um emprego, por exemplo.
Bom, e onde entra o Wolverine nesta história?
De uma maneira bastante besta, na verdade. Vendo informações sobre os períodos da era mesozóica, me deu vontade de desenhar um dinossauro. Aí, desenhando um tiranossauro rex, pensei: putz... que bicho fabuloso! Pra derrotar um desses, só se o cara fosse um... um... tipo assim, Wolverine. E aí mudei o rumo do desenho. Achei que seria engraçada a imagem de um t-rex degolado ao lado do nosso amigo de esqueleto de adamantium. O desenho é aquele ali, logo abaixo.
Mas o Wolverine...
Pois é. Eu vou fazer 41 daqui a 5 dias, ou seja, já não sou lá (nem aqui) muito novinho. O Wolverine foi criado pelo roteirista Len Wein, o diretor de arte John Romita (pai) e o desenhista Herb Trimpe, em 1974. Alguns anos depois disso (talvez 79), fui comprar um chiclete no bolicho perto da casa da minha vó e encontrei, envolvendo a goma, uma figurinha de herói. Eu já lia um que outro gibi da Disney na época, mas heróis me eram desconhecidos. De qualquer maneira, achei interessantes as imagens e comecei uma coleção. Aquela figura amarela de nome esquisito – imaginem uma criança de 8 anos, sem a menor ideia de que existe um idioma chamado inglês, pronunciando “Wolverine”- me instigou a curiosidade de imediato. Quando comecei a escrever este texto pensei: que legal seria ter essas figurinhas pra mostrar. Resolvi dar uma pesquisada no Google, mas sem muitas esperanças. E ACHEI!!! Cara... que coisa incrível! Achei um blog com todas as figurinhas da coleção. Juro, cheguei a me emocionar (devo ser meio nerd, apesar desta cara de fodão). É muito difícil a gente conseguir resgatar coisas assim tão remotas da nossa infância. Se alguém mais mascou aqueles chicletes e também quer rever as figurinhas, clique AQUI (Telminho, sempre gentil, dando o serviço de bandeja).
Então é isso: primeiro contato com o “baixinho invocado”, 1979.
Aí, passaram uns quatro, cinco anos. Eu estava na sétima série. Um colega de aula me emprestou uns gibis da Marvel. Eu peguei porque qualquer coisa com quadrinhos me interessava, mas preferia mesmo os da Disney ou da Mônica (desculpe, Maurício de Sousa, eu reconheço o teu valor, mas aqueles teus gibizinhos são uma descarada leitura de preguiçosos, a gente terminava um em menos de 10 minutos!). Buenas, me apaixonei pelos heróis. Em pouco tempo estava sabendo tudo sobre os universos Marvel e DC. As revistinhas eram já publicadas pela Abril (exploda, Abril!), mas a gente achava muita coisa dos heróis em selos da RGE, da Bloch e da Ebal (acho impressionante que ainda tenha lembrança disso). E foi num gibizinho da RGE que topei com o Wolverine de novo. A primeira história do herói canadense (aquela, de 1974), onde ele já chega enfrentando ninguém menos que o “incredible” Hulk. O desenho - aquele que botei lá em cima - é do Herb Trimpe. Gostei das características do personagem logo de cara. Então (embora hoje isso não mais seja uma coisa importante pra mim), é verdade quando digo que o Wolverine era o meu herói preferido muito, mas muito antes deste oba-ôba em torno do figura.
E lá se foram meus anos de ingenuidade e capacidade de fácil “suspensão da descrença”. Penso que de lá pra cá evoluí um pouco. Quanto aos gibis, não sei. Tecnicamente, sim. Nesse aspecto, os quadrinhos são hoje muito melhor elaborados do que naquele tempo. Os recursos tecnológicos e o aprimoramento dos artistas fazem com que sejam despejados nas bancas toneladas de impressionantes frutos da nona arte. Impressionantes quanto ao desenho e à colorização, mas péssimos no conteúdo escrito. Com isso não estou dizendo que os roteiros de antes eram melhores. Há algum tempo, por pura nostalgia, comprei alguns gibis daqueles dias. Foi decepcionante. Pude perceber então que as histórias eram fraquíssimas (com raríssimas exceções) e que só mesmo sendo um guri de 12, 13 anos pra gostar daquilo. De todo modo, ainda acho que naquele tempo existia uma preocupação maior em manter certa coerência dentro do universo fantasioso. Os heróis não mudavam suas características de acordo com o roteirista. Um personagem não morria numa edição pra ressuscitar três ou quatro depois. 
Mas voltando ao Wolverine. De lá pra cá a história do herói virou uma putaria. O personagem caiu nas graças da rapaziada e a febre de fazer dinheiro dos caras lá “responsáveis por essas coisas” passou com um rolo compressor por cima de qualquer zelo em relação à coerência, consistência, continuidade, verossimilhança, plausibilidade, etc. Com o aumento da popularidade do “Wolvie”, muitas coisas começaram a mudar. Ele se tornou praticamente indestrutível (quem leu "Wolverine, Inimigo do Estado", do débil mental Mark Millar, sabe do que estou falando). Também deve ter se tornado o carro-chefe das vendas. Surgiu como “baixinho invocado”, nas primeiras histórias tinha apenas 1,55m. Hoje as HQs mostram o personagem olhando todo mundo de igual pra igual. Como nesse desenho. O sujeito ficou alto. Depois disso, não tem nem como reclamar quando botam um ator como o Hugh Jackman pra encarnar o herói nas telas. Ouvi muitos dizerem: bah, o cara ficou perfeito no papel. Sim... perfeito... Perfeito pra vocês, que não têm noção de nada, bando de filisteus!!! Esses devem ser os mesmos que gostaram do Michael Keaton no papel de Batman (acho nada a ver até mesmo este magrelo – Christian Bale - que encarna o morcegão atualmente). Mas enfim... mesmo que a escolha do ator fosse mais adequada, nada salvaria aquele filme do Wolverine. Aliás, nada salvaria a maioria destes filmes de heróis. À exceção de Watchmen e Sin City, nenhuma adaptação de quadrinhos para as telas foi bem feita. Pirotecnia simplesmente. Uso e abuso de efeitos especiais e nada de emoção. E assim... vamos combinar, alguns heróis nunca deveriam ser transpostos para a telona. Será que era tão difícil prever que um filme do Capitão América só poderia ser uma merda? E o do Thor? Milhões gastos naquilo (e a Nathalie Portman se prestou – não a amo mais, está fora do meu panteão de deusas) pra sair um filme sem graça alguma (a propósito, alguém gosta do Thor, mesmo nos quadrinhos?).
Mas enfim, escrever sobre isso é pura perda de tempo. Melhor encerrar aqui este texto-tributo à minha infância semi-debilóide – eu diria que na infância é permitido ser meio bobo, desde que se evolua depois. Os gibis de heróis eram e continuarão sendo uma grande bobagem. E os filmes que fazem deles também. Excetuando o Frank Miller e mais um ou dois escritores, roteiristas de quadrinhos de heróis são uns belos duns retardados. Nem mesmo caras festejados como Brian Vaughan ou esse tal Mark Millar escapam deste balaio. Suas histórias se sobressaem às demais, mas continuam sendo bobas, mirabolantes sem conseguir convencer, com falhas ingênuas de roteiro e com soluções fáceis ou esdrúxulas para as tramas que eles mesmos criam (Brian Vaughan escreveu alguns capítulos do Lost e não duvido que tenha uma parcela de culpa naquele final completamente decepcionante da série). Retardados. E quem faz um filme disso está apostando na estupidez de outros retardados, os que leem quadrinhos de heróis ou aqueles que vão ao cinema pra ver qualquer merda que esteja em cartaz. 
Em solidariedade aos que ainda gostam de quadrinhos, um último serviço: pra quem souber ler em inglês, este site tem toda a cronologia da vida do ex-baixinho invocado. Ajuda a entender um pouco das estripulias que os roteiristas debilóides andaram fazendo.
De minha parte, adeus, Wolverine! Foi bom durante um tempo, mas acabou. Me avise quando o Frank Miller resolver fazer alguma coisa contigo.

Abraços!

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