quarta-feira, 29 de maio de 2013

O mundo acabou


Acho fantástica esta árvore aí de cima. O baobá. Segundo a Wikipédia, existem oito espécies no mundo, seis em Madagascar. No Brasil pode-se encontrar algumas variedades plantadas, principalmente em estados do nordeste. Uma, em Recife, teria inspirado um trecho do Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. São árvores que podem viver de 3 a 6 mil anos, segundo alguns botânicos. Não há consenso da comunidade sobre isso, mas de qualquer jeito é uma árvore impressionante.
Foi lendo sobre os baobás que acabei me interessando por Madagascar. Ainda segundo a Wikipédia, é o lugar com uma das maiores biodiversidades de fauna e flora do planeta. Isso apesar de 90% do território ter sido desmatado. Sabe o que é isso? Noventa por cento? Lá na Wikipédia tem uma foto de satélite da ilha (a 4ª maior do mundo). É triste de se ver. Parece que um câncer foi comendo o lugar.

Estóico
Eu venho, pouco a pouco, me insensibilizando com estas coisas. Acho que é isso: o mundo acabou. Já faz algum tempo. Nós só estamos vivendo os estertores, como alguém bem disse. Em janeiro de 2009 postei aqui no blog este trecho de uma reportagem dum amigo jornalista:
"...em 23 de setembro de 2008, ocorreu o chamado Earth Overshoot Day , "o dia da ultrapassagem da Terra". Institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do planeta. Traduzindo: estamos consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe."
E por estes dias li num jornal aí que alguns cientistas e geólogos querem dar um novo nome para a época em que vivemos. Bem simples, acaba o holoceno e começa o antropoceno. Depois de 11.500 anos, uma nova época. E por que? Porque a atividade humana está conseguindo mudar a face do planeta numa proporção maior do que a dos fenômenos naturais que estabeleceram o início de outras épocas. Segundo estes estudiosos, o homem move mais pedras e sedimentos do que as forças da natureza, acelera processos de erosão e libera quantidades monumentais de nitrogênio. A área da terra hoje usada para agricultura é do tamanho da América do Sul. Já a pecuária ocupa o equivalente a um continente africano. Isso tudo mudou a dinâmica do planeta. O solo, as águas, o clima e a vida das espécies sofreram o impacto de toda esta atividade.

17 anos de vegetarianismo
Eu moro sozinho aqui na praia e tô levando uma vida bem simples. Construí uma composteira, comecei uma hortinha e comprei um fogão a lenha. Tenho planos de instalar uma cisterna. Apesar da vida pacata, produzo um pouco de lixo. O orgânico boto na composteira, o seco vou juntando até o meu pai vir e levar pra Canoas (aqui em Cidreira não tem coleta seletiva). Hoje em dia não penso mais, mas antigamente ficava angustiado imaginando as milhares de toneladas de lixo produzidas diariamente em cidades como Porto Alegre (por cujas calçadas imundas – antes dos contêineres - eu passava). E o esgoto? Nada agradável visualizar mentalmente o encanamento dos prédios e casas de uma cidade grande, repletos de cocô e indo desembocar no rio. Sim, tem o tratamento e tal, mas é bem nojento saber que bebemos uma água com uma quantidade “tolerável” de coliformes fecais.
Vou repetir uma frase do filme Matrix: o homem é um câncer no planeta. E tudo fica pior quando o vírus-homem adota o capitalismo (sei que parece anacrônico-panfletário-intempestivo-rançoso-dogmático-ingênuo-etc o uso dessa palavra... mas não tem outra... se não é isso, é o que então?). Aí o azeite do capitalismo – o consumismo – estimula os pequenos corpúsculos acelerando o processo de degradação do corpo hospedeiro - a boa e velha terra.
Não vou salvar o planeta com a minha hortinha e composteira. Mas sabe o que é pior? O Greenpeace, também não vai. Nem o Sea Shepherd. Nem a WWF. Ninguém vai. Acabou. Estertores, crazy people... estertores.
O homem, a humanidade, é um corpo só. Tem um Telmo aqui, um fulano ali, um sicrano acolá separando o lixo, não comendo carne (sobre isso, este artigo), andando de bicicleta e tal, mas o mundaréu de gente que forma o real corpo da humanidade, o corpo que faz a história, é autodestrutivo. As celulazinhas esfomeadas e irracionais vão comer o hospedeiro até não ter mais nada. Você pode até pensar: eu não vou deixar de comer carne, porque o problema não sou eu e sim a grande indústria e as concentrações humanas onde o consumo é desproporcional (como os EUA, que representam 5% da população mundial mas consomem 32% da produção do globo). Buenas, parece uma verdade. Uma verdade pra você e pra mais alguns bilhões de indivíduos no mundo. Bilhões de pessoas que não vão mudar seus hábitos porque acham que não são os causadores do problema. Mas se são bilhões consumindo o seu bifezinho todos os dias, faça o cálculo... Bem na boa, meu amigo carnívoro: tá na hora de assumir parte dessa culpa.

A literatura e o fim
Tô lendo um livro do Chuck Palahniuk (Assombro - famoso por causar desmaios nos leitores) e tem um trecho onde um personagem diz: “...adoramos doenças. Câncer. Adoramos terremotos... adoramos incêndios florestais, derramamentos de petróleo e assassinatos em série... Adoramos terroristas, sequestradores, ditadores e pedófilos... adoramos poluição. Chuva ácida. Aquecimento global. Fome”. Esses adoradores são o corpo único do qual eu falava. Não é difícil perceber uma coisa dessas. Enxergar que o homem busca irracionalmente o próprio extermínio. Eu vejo isso quando passo por um pátio de concessionária abarrotado de carros, quando vejo uma indústria gigantesca produzindo entretenimento inconsequente, que só vai intensificar os hábitos consumistas e destrutivos já existentes. Vejo isso quando assisto TV. Vejo nas revistas que não precisavam existir. Nos jornais que não sabem direito de que lado da humanidade estão. Vejo isso nos meus amigos fumando, nos meus amigos se enchendo de trabalho e de remédios. Vejo o fim quando, aparentemente, todo mundo projeta sua paixão numa coisa estúpida e perpetuadora de injustiças como o futebol. Vejo isso quando igrejas ganham fiéis aos roldões apesar da exploração descarada. Enfim, dá pra ver isso em cada pequena atitude - de quase todo mundo - que visa apenas a satisfação imediata de uma necessidade, não importando as consequências.
Mas como eu disse, venho me insensibilizando. Sou agora um espectador do fim. Já há algum tempo penso sobre isso de as coisas, numa determinada hora, acabarem. Aquele negócio de ficar lendo sobre tempo geológico e o tamanho do universo... buenas, tudo isso faz a gente mudar a perspectiva. Lembro de uma frase do filme Watchmen (criado a partir da sensacional HQ de Alan Moore): “a existência humana é um evento superestimado”. Talvez seja mesmo e talvez eu esteja me preocupando à toa com o que vai ser da humanidade. Foda-se a humanidade. Ou pelo menos foda-se a minha preocupação.
Quando alguns amigos estudantes de ciências sociais – os da antropologia, principalmente – vinham com aquela conversa da necessidade de preservar culturas, eu pensava com meus botões: mas se já disseram que no futuro só vai existir inglês, espanhol e mandarim... porque esses caras insistem? Depois, lendo algum artigo da Geográfica Universal ou da Superinteressante, eu pensava também: ah, que triste! Mais um bichinho em algum canto do planeta foi extinto... mas não deve ser tão grave, afinal a história do planeta terra já teve catástrofes naturais que acabaram, de uma tacada só, com muito mais espécies do que o homem conseguiu exterminar até agora. E assim eu fui chegando a esta pergunta: será que não vivemos realmente no melhor dos mundos possíveis (Leibniz/Voltaire)? Ou mesmo esta: será que esta pergunta é pertinente?

O escritor britânico Martin Amis escreveu uma história intitulada “O Zelador de Marte”. Faz parte do livro “Água Pesada e Outros Contos”. É sensacional. Faz muito tempo que li e já não lembro direito, mas aquele conto me fez pensar sobre muitas coisas. A história trata de uma comissão terrestre formada por alguns cientistas e outras personalidades, tripulantes de uma nave que vai a Marte a convite de um robô, que estaria lá há muitos anos esperando o momento certo para contatar a humanidade. Esse robô narra para os embasbacados terrestres a saga dos ex-habitantes do planeta vermelho. É uma história doida, cheia de elementos de ficção científica e informações astrofísicas. E muito engraçada também. Sugiro com veemência que seja lida (tenho o livro, se alguém quiser comprar). Entre as muitas coisas que me ficaram na lembrança, penso sempre num trecho onde o zelador de marte (o robô) compara a evolução marciana à terrena e diz “... enquanto isso, lá em cima, em Marte... ... Somos os senhores do nosso ambiente, nos livramos de todos os animais, dos oceanos e de tudo o mais, e das flutuações troposféricas a que vocês denominam clima”. Aí então penso se não é isso que tá acontecendo por aqui, se não vamos caminhando pra um futuro onde poderemos prescindir da natureza. Tem tanta coisa maluca acontecendo: cibernética, biotecnologia, nanotecnologia, genética, robótica, etc... Talvez o futuro seja mesmo um lugar sem árvores e todo o resto. Talvez seja um lugar pra uma nova forma de vida. Mas mesmo que seja assim, parece que existe um risco bem grande de acabarmos com tudo antes de chegar lá.

Olha as minhas preocupações!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Eu queria ser o Frank Miller


Página de uma HQ que eu tava querendo fazer. Desisti. Desisti, como sempre desisto. Achei o resultado muito ruim, muito aquém do efeito que eu buscava. Saco isso...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Que sarro...

O Hunter Thompson pode se revirar no túmulo, mas que isso é muito engraçado, é.

domingo, 26 de maio de 2013

Jamil Snege. Outra vez.


Há cinco anos, logo no início deste blog, escrevi um texto sobre o escritor curitibano Jamil Snege. Este. Agora, tanto tempo depois, começou uma procura pelos livros dele. Eu tinha 6 exemplares - de títulos diversos - à venda na Estante Virtual, e de repente, em menos de um mês, foram-se todos. E não foram baratos (claro, eu sei do meu produto... mesmo que ninguém conhecesse, eu sabia que aquilo era material de primeira). Fiquei intrigado com esse interesse súbito e fui ver se descobria o porquê na internet. A razão é simples: faz dez anos que o cara morreu. A imprensa tá fazendo um pequeno resgate. Nada de muito estardalhaço, mas ainda assim visível o suficiente para despertar a curiosidade em alguns leitores mais atentos. Estes - se conseguirem os livros - vão ter contato com um escritor sensacional que merecia ser muito mais conhecido, diga-se logo (é uma lástima, o homem sequer tá na Wikipedia). Merecia, mas é pouco provável que venha a ser. O Snege publicou poucos títulos e de pequenas tiragens. A reedição destas obras, parece, está entravada por uma questão judicial e pela vontade do próprio autor. Seus livros são agora artigos raros. Se eu não estivesse precisando TANTO de grana, não teria vendido os meus. Buenas, sigo me convertendo num filisteu*. Resta mentir que sou tão nobre de alma que precisava passar adiante aquelas maravilhas, uma vez que já tinha lido e que venho tentando concordar com quem diz que lugar de livro não é na estante. É, resta isso...

*Wikipedia: A palavra filisteu, no sentido não histórico, refere-se à pessoa deficiente na cultura das Artes liberais, um oponente intolerante do boêmio, quem exibe um código moral restritivo, desapreciador das ideias artísticas.
A partir do século XIX, na Europa, a palavra "filisteu" passou a designar pessoas de comportamento acovardado, que têm ojeriza por questões políticas maiores, não valorizam a arte, a beleza ou o conteúdo intelectual e satisfazem-se com o cotidiano da vida privada pacata e confortável. O filisteu não seria adepto de ideais, mas apenas de propostas práticas passíveis de serem contabilizadas em melhorias para sua vida privada imediata. "Filisteu da cultura" é um conceito criado pela intelligentsia alemã do séc. XIX e recebeu análise filosófica de Nietzsche em Primeira Consideração Intempestiva). 

terça-feira, 14 de maio de 2013

A vida pulsante das ruas

Tirando o visual extravagante de uns e outros, acho sensacionais esses caras. O que eles fazem. O primeiro vídeo é de Parkour, um negócio que consiste em fazer miséria pelas ruas das cidades. Foi criado na França. O segundo é de break dance (ou street dance, conforme preferem alguns). Um dia vai se descobrir que os caras que fazem isso na verdade são de uma raça alienígena que não possui articulações. Eles fingem que são humanos só pra deixar as pessoas constrangidas. E o último vídeo é de um lance chamado Workout (street workout, fitness workout, workout motivation, nomes diversos). Os mais legais que vi são os tchecos e ucranianos, mas tem de vários lugares. Também se pode ver alguma coisa disso - no YouTube - numas séries chamadas "People are Awesome", mas aí é uma mistureba, vai desde malabarismos criativos a demonstrações de mega atletas (potenciais suicidas) com os quais nunca dá pra conversar, porque os caras vivem, no mínimo, a 200 por hora.


domingo, 12 de maio de 2013

O tempo...

Ok, momento ego total (o quê??? mais do que vinha sendo até agora?!!!). É... mais. Se alguém se der ao trabalho de procurar, vai ver que a terceira postagem feita neste blog - lá em fevereiro de 2008 - intitula-se "a inexorabilidade do tempo". São imagens de uma família que se fotografa todos anos (desde mil novecentos e lá vai pedrada) e nas quais se pode perceber a juventude indo embora aos poucos (triste, né?). Eu tentei fazer algo parecido aí em cima, mas por mais narcisista que eu seja, não consegui juntar uma foto de cada ano. E claro, o narcisismo aí é completamente injustificado: um cara sem sobrancelhas, com orelhas de abano e cada vez mais careca (sem falar na pose, quase sempre a mesma, pra disfarçar o vertiginoso desvio de septo)... tsc, tsc, tsc.  Buenas, o ego é grande, admito, mas não se trata apenas disso. Trata-se de um gancho pra dissecar outros assuntos. A partir de mim, claro (o Protágoras já não dizia que o homem é a medida de todas as coisas? Então sente o silogismo: Telmo é homem, logo Telmo é a medida de todas as coisas (ah, meus tempos de filosofia!)). Na verdade a verdade mesmo é que estou meio que vivendo um pânico controlado (não é figura de linguagem, já tive crises de pânico - lá pelos meus 21 - e sei do que estou falando). Tá caindo a ficha de alguma coisa que eu ainda não consegui definir bem, mas acho dá pra simplificar dizendo que é a maldita crise dos 40 (deve ser isso... SÓ PODE SER ISSO).
Quando entrei na Filosofia, em 2005, era um cara de 33 que rapidamente se enturmou com a gurizadinha recém saída do 2º grau. Eles tinham 18, 19 e eram uma gente fantástica. Eu tinha quase o dobro da idade deles, mas isso não me incomodava. Me sentia jovem, jovem como eles. Mas agora, de repente, CABRUM!!!! caiu em cima de mim esse negócio: VELHO! Quando foi exatamente? Não sei. Comemorei meus 40 anos num barzinho da Cidade Baixa, cercado de bons amigos e me achando um cara até que inteirinho pra 40. Não fiz 42 ainda, como pode o meu astral ter mudado tão radicalmente em pouco mais de um ano? Porque estou me sentindo em fim de carreira? Será alguma coisa a ver com o fato de estar vivendo quase como um eremita aqui no litoral? O que me fez abrir os olhos de repente e começar a ver que todo o meu mundo envelheceu? As pessoas da TV, meus antigos amigos, meus antigos colegas de trabalho, as crianças da família, meus pais... Por que, de repente, me dei conta de que o tempo passou pra todo mundo? Por que antes não era assim? O que mudou? Alguém sabe de alguma teoria esotérica, alguma explicação baseada em física quântica, qualquer coisa, enfim, que responda POR QUE??? Tô aceitando de tudo pra acabar com esta angústia.
Uma vez alguém disse: jovens, envelheçam (eu poderia procurar isso no Google, mas tô com preguiça). Aí o Caetano Veloso (parece que foi ele) disse: velhos, rejuvenesçam. Claro, o Caê deve dividir comigo a opinião de que a juventude é coisa mais linda que existe (é irônico, pois a figura do Caetano é uma das coisas que mais me faz ver que o tempo passou. Todos aqueles caras da MPB que a gente gostava estão velhos, beeem velhos). E sim, eu presto um tributo constante à minha juventude - que nem foi tão sensacional quanto eu desejei, mas era juventude afinal de contas. Eu GOSTAVA de ser jovem, eu queria ser jovem pra sempre. Não sei quanto aos outros "novos" quarentões do pedaço, mas pra mim tá sendo barra. As razões para isso são várias, mas talvez a principal delas seja o fato de que dia desses me peguei protelando pela bilionésima vez algum projeto (de música ou de desenho) e uma voz interior me disse: cara, tu já não pode se dar a esse luxo... na real, tu já demorou demais... já era pra ter feito há muito tempo. E a voz continuou: te liga, sem-noção... aquela tua síndrome de Peter-pan já não tem mais onde se escorar... olha tua carinha no espelho e aceita, el tiempo pasa!
Tenho um amigo da mesma idade passando por crises parecidas. No caso dele o que parece estar pegando é o fato de que não produziu nada para a posteridade. O cara tem (ou tinha) pretensões artísticas, mas não escreveu o livro que a Companhia das Letras quer publicar, não desenhou a HQ ganhadora do prêmio Eisner, não deixou, enfim, o nome na calçada da fama. Isso não me torna melhor nem pior, mas preciso dizer que a minha frustração é de um matiz diferente: há muito tempo estou resignado com isso de não ter produzido nada de significativo no campo das artes. Tentei várias vezes, mas não foi demorado - e nem traumático - pra perceber minha mediocridade e aceitar o fato de que eu não tinha nada pra dizer (nada de original, pelo menos). As coisas são como são, um Rimbaud ou um Orson Welles não nascem todo dia. É aceitar isso ou nutrir a esperança de ser como o Kant, um cara que só foi produzir algo significativo (e bota significativo nisso: A Crítica da Razão Pura) quando tinha 57 anos. Um consolo para os de alma nobre que fazem arte pela arte, mas para mim o virtuosismo artístico deveria andar sempre de braço dado com o vigor da juventude, que sabe torná-lo mais festivo e sabe também usufruir melhor dos seus frutos. Tudo bem, sei que há controvérsias, mas ainda não sou velho o suficiente pra abrir mão desta opinião.
Mas voltando: se eu não compartilho o tipo de angústia do meu camarada, porque me incomoda o fato de não mais poder protelar meus projetos artísticos? Parece contraditório, uma vez que eu já havia aceitado minha incapacidade de dar ao mundo uma obra de arte de valor. Buenas, não se trata de preocupação com a obra, trata-se de preocupação (indignação) com vitalidade. Não vou morrer de desgosto se o mundo não souber quem é o Telmo, mas vou ficar muito triste por não poder mais brincar (simplesmente brincar) com a possibilidade de, quem sabe por acidente, acabar produzindo alguma coisa legal afinal de contas. E como tenho aquela opinião sobre virtuosismo/juventude, é claro que daqui pra frente só vou esmorecendo. Dá pra entender? Eu não queria perder o lúdico da coisa, e o lúdico da coisa não tem nada a ver com um senhor maduro. Por favor, não pensem que sou preconceituoso. É claro que velhos também podem brincar, mas não do mesmo jeito que jovens. Quer um exemplo? Tome um porre (de cerveja barata, sentado no meio fio) aos 20 e tome outro aos 40. No dia seguinte fale comigo. Essa é apenas uma das minhas ideias de diversão. Eu sei que com a idade os prazeres mudam, mas é foda... eu penso como o Jack London, a plenitude física tem muito valor pra mim. Talvez acabe morrendo da forma triste que ele morreu (e também o Nietzsche, um cara que por sinal o London admirava). Ou talvez a ciência descubra uma forma de garantir a imortalidade. Hum... pois é, mas a imortalidade não me interessa. Eu quero morrer um dia e passar logo pra fase seguinte, se é que ela existe. E quero ficar jovem até esse dia. É foda...