Acho fantástica esta árvore aí de cima. O baobá. Segundo a
Wikipédia, existem oito espécies no mundo, seis em Madagascar. No Brasil pode-se
encontrar algumas variedades plantadas, principalmente em estados do nordeste.
Uma, em Recife, teria inspirado um trecho do Pequeno Príncipe, de
Saint-Exupéry. São árvores que podem viver de 3 a 6 mil anos, segundo alguns
botânicos. Não há consenso da comunidade sobre isso, mas de qualquer jeito é
uma árvore impressionante.
Foi lendo sobre os baobás que acabei me interessando por
Madagascar. Ainda segundo a Wikipédia, é o lugar com uma das maiores
biodiversidades de fauna e flora do planeta. Isso apesar de 90% do território
ter sido desmatado. Sabe o que é isso? Noventa por cento? Lá na Wikipédia tem
uma foto de satélite da ilha (a 4ª maior do mundo). É triste de se ver. Parece
que um câncer foi comendo o lugar.
Estóico
Eu venho, pouco a pouco, me insensibilizando com estas
coisas. Acho que é isso: o mundo acabou. Já faz algum tempo. Nós só estamos
vivendo os estertores, como alguém bem disse. Em janeiro de 2009 postei aqui no
blog este trecho de uma reportagem dum amigo jornalista:
"...em 23 de setembro de 2008, ocorreu o chamado Earth
Overshoot Day , "o dia da ultrapassagem da Terra". Institutos que
acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o
consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração
do planeta. Traduzindo: estamos consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele
que não existe."
E por estes dias li num jornal aí que alguns cientistas e
geólogos querem dar um novo nome para a época em que vivemos. Bem simples, acaba
o holoceno e começa o antropoceno. Depois de 11.500 anos, uma nova época. E por
que? Porque a atividade humana está conseguindo mudar a face do planeta numa
proporção maior do que a dos fenômenos naturais que estabeleceram o início de
outras épocas. Segundo estes estudiosos, o homem move mais pedras e sedimentos
do que as forças da natureza, acelera processos de erosão e libera quantidades
monumentais de nitrogênio. A área da terra hoje usada para agricultura é do
tamanho da América do Sul. Já a pecuária ocupa o equivalente a um continente
africano. Isso tudo mudou a dinâmica do planeta. O solo, as águas, o clima e a
vida das espécies sofreram o impacto de toda esta atividade.
17 anos de vegetarianismo
Eu moro sozinho aqui na praia e tô levando uma vida bem
simples. Construí uma composteira, comecei uma hortinha e comprei um fogão a
lenha. Tenho planos de instalar uma cisterna. Apesar da vida pacata, produzo um
pouco de lixo. O orgânico boto na composteira, o seco vou juntando até o meu
pai vir e levar pra Canoas (aqui em Cidreira não tem coleta seletiva). Hoje em
dia não penso mais, mas antigamente ficava angustiado imaginando as milhares de
toneladas de lixo produzidas diariamente em cidades como Porto Alegre (por
cujas calçadas imundas – antes dos contêineres - eu passava). E o esgoto? Nada
agradável visualizar mentalmente o encanamento dos prédios e casas de uma
cidade grande, repletos de cocô e indo desembocar no rio. Sim, tem o tratamento
e tal, mas é bem nojento saber que bebemos uma água com uma quantidade
“tolerável” de coliformes fecais.
Vou repetir uma frase do filme Matrix: o homem é um câncer no planeta. E tudo fica pior
quando o vírus-homem adota o capitalismo (sei que parece
anacrônico-panfletário-intempestivo-rançoso-dogmático-ingênuo-etc o uso dessa
palavra... mas não tem outra... se não é isso, é o que então?). Aí o azeite
do capitalismo – o consumismo – estimula os pequenos corpúsculos acelerando o
processo de degradação do corpo hospedeiro - a boa e velha terra.
Não vou salvar o planeta com a minha hortinha e composteira.
Mas sabe o que é pior? O Greenpeace, também não vai. Nem o Sea Shepherd. Nem a
WWF. Ninguém vai. Acabou. Estertores, crazy people... estertores.
O homem, a humanidade, é um corpo só. Tem um Telmo aqui, um
fulano ali, um sicrano acolá separando o lixo, não comendo carne (sobre isso,
este artigo),
andando de bicicleta e tal, mas o mundaréu de gente que forma o real corpo da
humanidade, o corpo que faz a história, é autodestrutivo. As celulazinhas
esfomeadas e irracionais vão comer o hospedeiro até não ter mais nada. Você
pode até pensar: eu não vou deixar de comer carne, porque o problema não sou eu
e sim a grande indústria e as concentrações humanas onde o consumo é
desproporcional (como os EUA, que representam 5% da população mundial mas
consomem 32% da produção do globo).
Buenas, parece uma verdade. Uma verdade pra você e pra mais alguns bilhões de indivíduos no mundo. Bilhões de pessoas que não vão mudar seus hábitos porque acham que
não são os causadores do problema. Mas se são bilhões consumindo o seu
bifezinho todos os dias, faça o cálculo... Bem na boa, meu amigo carnívoro: tá
na hora de assumir parte dessa culpa.
A literatura e o fim
Tô lendo um livro do Chuck Palahniuk (Assombro - famoso por
causar desmaios nos leitores) e tem um trecho onde um personagem diz:
“...adoramos doenças. Câncer. Adoramos terremotos... adoramos incêndios
florestais, derramamentos de petróleo e assassinatos em série... Adoramos
terroristas, sequestradores, ditadores e pedófilos... adoramos poluição. Chuva
ácida. Aquecimento global. Fome”. Esses adoradores são o corpo único do qual eu
falava. Não é difícil perceber uma coisa dessas. Enxergar que o homem busca
irracionalmente o próprio extermínio. Eu vejo isso quando passo por um pátio de
concessionária abarrotado de carros, quando vejo uma indústria gigantesca
produzindo entretenimento inconsequente, que só vai intensificar os hábitos
consumistas e destrutivos já existentes. Vejo isso quando assisto TV. Vejo nas
revistas que não precisavam existir. Nos jornais que não sabem direito de que
lado da humanidade estão. Vejo isso nos meus amigos fumando, nos meus amigos se
enchendo de trabalho e de remédios. Vejo o fim quando, aparentemente, todo
mundo projeta sua paixão numa coisa estúpida e perpetuadora de injustiças como
o futebol. Vejo isso quando igrejas ganham fiéis aos roldões apesar da
exploração descarada. Enfim, dá pra ver isso em cada pequena atitude - de quase
todo mundo - que visa apenas a satisfação imediata de uma necessidade, não
importando as consequências.
Mas como eu disse, venho me insensibilizando. Sou agora um
espectador do fim. Já há algum tempo penso sobre isso de as coisas,
numa determinada hora, acabarem. Aquele negócio de ficar lendo sobre tempo
geológico e o tamanho do universo... buenas, tudo isso faz a gente mudar a
perspectiva. Lembro de uma frase do filme Watchmen (criado a partir da
sensacional HQ de Alan Moore): “a existência humana é um evento superestimado”.
Talvez seja mesmo e talvez eu esteja me preocupando à toa com o que vai ser da
humanidade. Foda-se a humanidade. Ou pelo menos foda-se a minha preocupação.
Quando alguns amigos estudantes de ciências sociais – os da
antropologia, principalmente – vinham com aquela conversa da necessidade de
preservar culturas, eu pensava com meus botões: mas se já disseram que no
futuro só vai existir inglês, espanhol e mandarim... porque esses caras
insistem? Depois, lendo algum artigo da Geográfica Universal ou da
Superinteressante, eu pensava também: ah, que triste! Mais um bichinho em algum
canto do planeta foi extinto... mas não deve ser tão grave, afinal a história
do planeta terra já teve catástrofes naturais que acabaram, de uma tacada só,
com muito mais espécies do que o homem conseguiu exterminar até agora. E assim
eu fui chegando a esta pergunta: será que não vivemos realmente no melhor dos
mundos possíveis (Leibniz/Voltaire)? Ou mesmo esta: será que esta pergunta é
pertinente?
O escritor britânico Martin Amis escreveu uma história
intitulada “O Zelador de Marte”. Faz parte do livro “Água Pesada e Outros
Contos”. É sensacional. Faz muito tempo que li e já não lembro direito, mas
aquele conto me fez pensar sobre muitas coisas. A história trata de uma
comissão terrestre formada por alguns cientistas e outras personalidades, tripulantes
de uma nave que vai a Marte a convite de um robô, que estaria lá há muitos anos
esperando o momento certo para contatar a humanidade. Esse robô narra para os
embasbacados terrestres a saga dos ex-habitantes do planeta vermelho. É uma
história doida, cheia de elementos de ficção científica e informações
astrofísicas. E muito engraçada também. Sugiro com veemência que seja lida
(tenho o livro, se alguém quiser comprar). Entre as muitas coisas que me ficaram
na lembrança, penso sempre num trecho onde o zelador de marte (o robô) compara a evolução marciana à terrena e diz “...
enquanto isso, lá em cima, em Marte... ... Somos os senhores do nosso ambiente,
nos livramos de todos os animais, dos oceanos e de tudo o mais, e das
flutuações troposféricas a que vocês denominam clima”. Aí então penso se não é isso que tá acontecendo por aqui, se não vamos caminhando pra um futuro onde poderemos prescindir da natureza. Tem tanta coisa maluca acontecendo: cibernética, biotecnologia, nanotecnologia, genética, robótica, etc... Talvez o futuro seja mesmo um lugar sem árvores e todo o resto. Talvez seja um lugar pra uma nova forma de vida. Mas mesmo que seja assim, parece que existe um risco bem grande de acabarmos com tudo antes de chegar lá.
Olha as minhas preocupações!