Pra mim sempre rolou uma confusão: 1º de maio é o dia do trabalho ou do trabalhador? Acho que devia ser do trabalhador, porque dia do trabalho são quase todos os outros.
A propósito, você sabe a origem da palavra "trabalho"? Dê uma olhada neste link.
Eu tenho um discurso contra o trabalho, não é novidade. Sou amparado (além da minha capacidade de RACIOCINAR) por uma vasta literatura. Procure por:
Manifesto Contra o Trabalho - Grupo Krisis
Elogio ao Ócio - Bertrand Russell
O Trabalho Enlouquece? - Vários Autores (ed. Vozes)
A Loucura do Trabalho - Christophe Dejours
E por aí vai...
Alguns chegados meus adoram me chamar de vagabundo. Eles falam brincando (espero), porque sabem que já trabalhei muito. Tinha 15 anos quando assinei minha carteira pela primeira vez, mas mesmo antes já trabalhava em coisas informais (vender picolé, lavar carro, capinar pátio - lembro ainda hoje a vez em que limpei o chão de um boteco em troca de um gibi meio raro). Fiquei 6 anos no meu primeiro emprego e curti (no início a gente acha tudo legal), mas depois disso nunca consegui aguentar mais que 3 anos em qualquer lugar, e muito raramente curti de novo. Escolhi (na verdade caí nisso) a área de comunicação e fiquei pipocando nos muitos lugares onde ela é praticada: jornais, revistas, agências de publicidade e as famigeradas gráficas. Bah, dá um cansaço só de lembrar os trabalhos que já tive que fazer e os lugares horríveis onde fui parar. Tenho quase 30 anos de trabalho nas costas e talvez nem 15 de carteira assinada. Trabalhei (como muita gente neste país) sem "vínculo empregatício". Me fudi.
Abri uma pequena empresa em 96, uma época em que as pequenas empresas (e também algumas não tão pequenas) estavam quebrando bonito. Fechei as portas em menos de um ano, mas acho que aprendi uma lição para além do universo do empreendedorismo com aquela falência. Me tornei um sujeito muito mais humano e desapegado. Desde aqueles meus longínquos 25 anos que sigo fiel à decisão de não usar cartões de crédito, talões de cheque ou qualquer outra destas "modernidades" que mantém a galera mergulhada num atoleiro de dívidas eternas. Foi mais ou menos por esta época que voltei a ler livros e deixei de comer carne pra valer. E lá se vão 18 anos.
Mas quanto ao trabalho... Eu adoro ficar em casa fazendo só o que me dá na telha. Toco meu violão, desenho um pouco, baixo um filme, olho um pornô, leio um livro ou uma revista em quadrinhos, saio pro parque pra me exercitar um pouco, escuto um disco, enfim, gasto meu tempo COMIGO. Isso me parece um direito essencial. Dentre muitos outros que deveriam ser garantidos (moradia de graça, por exemplo). Mas nunca deixei de trabalhar. E não me refiro apenas ao trabalho como necessidade financeira, falo do trabalho como atividade física e mental. Não sou um vadio (mas também não emito juízos morais sobre isso - apenas acho que ninguém tem obrigação de sustentar ninguém: o cara quer levar a vida largada, então que se garanta de alguma maneira). Não consigo ficar parado. Muita gente ficaria surpresa se descobrisse que, inclusive, gosto da ideia de trabalho. Gosto mesmo. No mundo ideal que vislumbro, as pessoas trabalham felizes porque fazem aquilo que são a fim de fazer. E não são trabalhos estúpidos, não são atividades idiotas criadas pra movimentar a máquina da grana, uma grana que vai parar generosa na mão dos donos do mundo e pingadinha (apenas o suficiente pra sobreviver) na mão dos trabalhadores.
ESTA é a minha bronca com o trabalho. Do jeito que vivemos esta merda hoje, ela nada mais é do que ferramenta de controle e dominação. Já usei esta figura num conto que publiquei aqui no blog: o mundo é como se fosse uma plantação de pessoas, tem gente poderosa consumindo pessoas, as pessoas são criadas (vão do nascimento à morte) apenas para fazer uma engrenagem funcionar, e esta engrenagem funciona para que uns poucos filhos da puta neste planeta mantenham o seu altíssimo padrão de vida. Castas, nada mais que isso.
Eu vejo claramente que as pessoas estão doentes. O trabalho (entre outras coisas) faz com que adoeçam. A narcose, o vício do trabalho. Elas ficam doentes com ele, mas não conseguem viver SEM ele. Um sujeito desempregado é um potencial deprimido, porque não sabe o que fazer da vida. Claro, nunca saiu do esquemão. O cara não tem estrutura pra nada, ele precisa, além da grana, da FUGA do trabalho. E aí tudo vai ficando meio nublado, embotado. O sujeito desempenha uma função medíocre qualquer e provavelmente não questiona qual é a importância daquele trabalho pro mundo. Falo de importância REAL. Tá cheio de profissões, empresas, serviços e produtos no mundo que simplesmente NÃO PRECISAVAM EXISTIR. No bacanal capitalista que a gente vive, é preciso estar sempre inventando alguma coisa pra fazer a roda girar. E claro, a reboque disso, vêm os produtos sem qualidade (porque é preciso comprar de novo, e logo), os serviços deficientes, os serviços para dar assistência aos serviços (novas realidades jurídicas, constitucionais, financeiras, etc) e mais um monte de coisas que começam devagar e, quando você vê, já não pode viver sem elas.
Uma vez um amigo jornalista me disse: hoje, no mundo, existem muito mais soluções do que problemas. O que falta é interesse em mostrar isso. O cara sabia o que tava falando. Existe também mais comida do que gente com fome, mas a comida apodrece e vai fora, não pro esfaimado. E existe também a possibilidade de se viver sem o trabalho como um cabresto, como uma condição sine qua non pra ESTAR neste mundo. O problema é que tá todo mundo tão imerso na loucura, que ninguém PENSA. Pra muita gente essa minha conversa é um absurdo.
Pra mim, o absurdo é abrir mão de uma existência mais saudável pra ser uma peça numa engrenagem. É não tentar enxergar a conformação desta engrenagem, como ela funciona, qual é a finalidade dela.
Bando de macacos...
A propósito, você sabe a origem da palavra "trabalho"? Dê uma olhada neste link.
Eu tenho um discurso contra o trabalho, não é novidade. Sou amparado (além da minha capacidade de RACIOCINAR) por uma vasta literatura. Procure por:
Manifesto Contra o Trabalho - Grupo Krisis
Elogio ao Ócio - Bertrand Russell
O Trabalho Enlouquece? - Vários Autores (ed. Vozes)
A Loucura do Trabalho - Christophe Dejours
E por aí vai...
Alguns chegados meus adoram me chamar de vagabundo. Eles falam brincando (espero), porque sabem que já trabalhei muito. Tinha 15 anos quando assinei minha carteira pela primeira vez, mas mesmo antes já trabalhava em coisas informais (vender picolé, lavar carro, capinar pátio - lembro ainda hoje a vez em que limpei o chão de um boteco em troca de um gibi meio raro). Fiquei 6 anos no meu primeiro emprego e curti (no início a gente acha tudo legal), mas depois disso nunca consegui aguentar mais que 3 anos em qualquer lugar, e muito raramente curti de novo. Escolhi (na verdade caí nisso) a área de comunicação e fiquei pipocando nos muitos lugares onde ela é praticada: jornais, revistas, agências de publicidade e as famigeradas gráficas. Bah, dá um cansaço só de lembrar os trabalhos que já tive que fazer e os lugares horríveis onde fui parar. Tenho quase 30 anos de trabalho nas costas e talvez nem 15 de carteira assinada. Trabalhei (como muita gente neste país) sem "vínculo empregatício". Me fudi.
Abri uma pequena empresa em 96, uma época em que as pequenas empresas (e também algumas não tão pequenas) estavam quebrando bonito. Fechei as portas em menos de um ano, mas acho que aprendi uma lição para além do universo do empreendedorismo com aquela falência. Me tornei um sujeito muito mais humano e desapegado. Desde aqueles meus longínquos 25 anos que sigo fiel à decisão de não usar cartões de crédito, talões de cheque ou qualquer outra destas "modernidades" que mantém a galera mergulhada num atoleiro de dívidas eternas. Foi mais ou menos por esta época que voltei a ler livros e deixei de comer carne pra valer. E lá se vão 18 anos.
Mas quanto ao trabalho... Eu adoro ficar em casa fazendo só o que me dá na telha. Toco meu violão, desenho um pouco, baixo um filme, olho um pornô, leio um livro ou uma revista em quadrinhos, saio pro parque pra me exercitar um pouco, escuto um disco, enfim, gasto meu tempo COMIGO. Isso me parece um direito essencial. Dentre muitos outros que deveriam ser garantidos (moradia de graça, por exemplo). Mas nunca deixei de trabalhar. E não me refiro apenas ao trabalho como necessidade financeira, falo do trabalho como atividade física e mental. Não sou um vadio (mas também não emito juízos morais sobre isso - apenas acho que ninguém tem obrigação de sustentar ninguém: o cara quer levar a vida largada, então que se garanta de alguma maneira). Não consigo ficar parado. Muita gente ficaria surpresa se descobrisse que, inclusive, gosto da ideia de trabalho. Gosto mesmo. No mundo ideal que vislumbro, as pessoas trabalham felizes porque fazem aquilo que são a fim de fazer. E não são trabalhos estúpidos, não são atividades idiotas criadas pra movimentar a máquina da grana, uma grana que vai parar generosa na mão dos donos do mundo e pingadinha (apenas o suficiente pra sobreviver) na mão dos trabalhadores.
ESTA é a minha bronca com o trabalho. Do jeito que vivemos esta merda hoje, ela nada mais é do que ferramenta de controle e dominação. Já usei esta figura num conto que publiquei aqui no blog: o mundo é como se fosse uma plantação de pessoas, tem gente poderosa consumindo pessoas, as pessoas são criadas (vão do nascimento à morte) apenas para fazer uma engrenagem funcionar, e esta engrenagem funciona para que uns poucos filhos da puta neste planeta mantenham o seu altíssimo padrão de vida. Castas, nada mais que isso.
Eu vejo claramente que as pessoas estão doentes. O trabalho (entre outras coisas) faz com que adoeçam. A narcose, o vício do trabalho. Elas ficam doentes com ele, mas não conseguem viver SEM ele. Um sujeito desempregado é um potencial deprimido, porque não sabe o que fazer da vida. Claro, nunca saiu do esquemão. O cara não tem estrutura pra nada, ele precisa, além da grana, da FUGA do trabalho. E aí tudo vai ficando meio nublado, embotado. O sujeito desempenha uma função medíocre qualquer e provavelmente não questiona qual é a importância daquele trabalho pro mundo. Falo de importância REAL. Tá cheio de profissões, empresas, serviços e produtos no mundo que simplesmente NÃO PRECISAVAM EXISTIR. No bacanal capitalista que a gente vive, é preciso estar sempre inventando alguma coisa pra fazer a roda girar. E claro, a reboque disso, vêm os produtos sem qualidade (porque é preciso comprar de novo, e logo), os serviços deficientes, os serviços para dar assistência aos serviços (novas realidades jurídicas, constitucionais, financeiras, etc) e mais um monte de coisas que começam devagar e, quando você vê, já não pode viver sem elas.
Uma vez um amigo jornalista me disse: hoje, no mundo, existem muito mais soluções do que problemas. O que falta é interesse em mostrar isso. O cara sabia o que tava falando. Existe também mais comida do que gente com fome, mas a comida apodrece e vai fora, não pro esfaimado. E existe também a possibilidade de se viver sem o trabalho como um cabresto, como uma condição sine qua non pra ESTAR neste mundo. O problema é que tá todo mundo tão imerso na loucura, que ninguém PENSA. Pra muita gente essa minha conversa é um absurdo.
Pra mim, o absurdo é abrir mão de uma existência mais saudável pra ser uma peça numa engrenagem. É não tentar enxergar a conformação desta engrenagem, como ela funciona, qual é a finalidade dela.
Bando de macacos...
Um comentário:
baita texto.
combina muito com uma coisa que penso: mesmo as pessoas que pensam e vislumbram algo de errado nessa lógica-balaião, sucumbem, em certa medida, porque é muito difícil sustentar uma vida confortável sem fazer parte dessa gandaia.
não só financeiro, mas até pra facilitar as relações sociais. é difícil e cansativo defender uma alternativa porque rapidamente te rotulam e ninguém quer posar de chato-paranoide.
pelo menos eu achei que combina. hehe.
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