sexta-feira, 4 de abril de 2008

Minha cabeça tem mil coisas

Já li alguns livros do Fernando Bonassi. Gosto do cara. Este textinho logo abaixo escrevi bastante influenciado pelo conto "Tragédia no audiovisual brasileiro: Renata Sorrah está morta", que faz parte do livro "O Amor em Chamas". Queria fazer um texto longo - e tinha material para tanto - mas ando com um desânimo enorme ultimamente. Sempre penso: pra que isso? E aí desisto. Vou tocar meus violões ou meu teclado ou minha bateria ou minhas gaitinhas de boca e me sinto mais feliz. Adeus, Arte...


"River Phoenix, você é lindo! Tão lindo que a gente chega a acreditar no homem" - vozes de todo o orbe exclamam em uníssono. River Phoenix, com suas botas de jovem Indiana Jones, arranca a claquete de um renomado diretor independente e diz: "hoje não haverá cortes, quero uma película irreal em tempo real". E segue. Por onde passa, cegos recuperam a visão - para vê-lo - e mulheres de todas as idades sofrem crises, têm penosas síncopes e tartamudeiam preces de uma liturgia esquecida. "Nunca se foi tão longe!", "O que esta estética está a nos dizer?", "Ele é igual a todos nós... mas é tão melhor!". A humanidade oscila entre estados de deslumbramento e elucubrações infrutíferas. No mundo inteiro pesa um plúmbeo céu apocalíptico, mas um princípio de regozijo se dá à simples constatação de um fato: sim, as inefáveis madeixas de River Phoenix existem!!! Então o desejo doce e transcendente de tocar aqueles cabelos acalenta os sonhos de toda a gente esfaimada de beleza. São fios dourados que ondulam ao vento... e que ondulam o mundo. Há um transe aqui. Há um movimento suave e lento, mas que começa a mudar, crescer. Os cabelos de River Phoenix são agora ondas de brilho e energia que varrem o firmamento num ritmo cada vez mais nervoso. Parece não haver dúvidas de que tudo vai se extinguir. Alguns se dão conta, como se flagrados numa heresia: "mas são os cabelos de River Phoenix!". Quando este pensamento atinge a todos, a coisa explode em luz e leveza. River Phoenix desaparece e uma música de Milton Nascimento cai como uma seda sobre os corações.

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