Eu e minhas colegas Naira e Maricélia estivemos no Salão de Atos da Ufrgs pra assistir ao show do Arnaldo Antunes no dia 2 de abril. Tava massa. Taí uma fotinho (by Maricélia) registro pra posteridade. Abaixo reproduzo um poema do Antunes que publiquei num fanzine lá bem no início da década de noventa.
Eu apresento a página branca
Contra:
Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de Eros
Lerdos travestidos de Zen
Burrice travestida de citações
Água travestida de chuva
Aquário travestido de TV
Água travestida de vinho
Água solta apagando o afago do fogo
Água mole sem pedra dura
Água parada onde estagnam os impulsos
Água que turva as lentes e enferruja as lâminas
Água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intenções
Insípida, amorfa, inodora e incolor
Água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
Água onde não há seca
Água onde não há sede
Água em abundância
Água em excesso
Água em palavras
Eu apresento a página branca
A árvore sem sementes
O vidro sem nada na frente
Contra a água.
Arnaldo Antunes
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