Cara, acho que não existe ideia mais fantástica do que a de um harém. Fantástica pra um homem, é claro. E considerando a inexistência de qualquer projeção romântica, por supuesto. O que mais um sujeito pode desejar? Defendo a teoria de que tudo o que fazemos é, numa análise última, pra conquistar (leia-se impressionar) o sexo oposto (ou o mesmo sexo, no caso dos gays). Dinheiro, fama, poder, status, beleza, reconhecimento... pra que serve tudo isso senão pra conseguir a satisfação maior que é a do sexo (ou do amor, vá lá)? Claro, alguns se perdem e só conseguem achar prazer nas drogas, outros vão descobrir no poder um estimulante por si só e outros ainda vão mergulhar nas transcendências (místicas, intelectuais, etc, e não a do orgasmo). Mas na minha opiniãozinha, é isto: este pessoal se perdeu.
Também tenho cá comigo a suspeita de que o sexo é o grande lance pra transcender - já que falei nisso. Aí, é claro, não estou falando de um harém, mas de uma pessoa só, com quem se possa explorar ao máximo as possibilidades da coisa. Isso é sexo tântrico, não é? Confesso que não tenho uma ideia clara do negócio. É o meu empirismo que me leva a fazer essas ilações. Nunca experimentei nada melhor do que sexo. Tá certo que sou um caretão que jamais foi além da maconha, mas tem um mundaréu de gente de peso que concorda comigo. E acho que é um grupo bem maior do que o dos junkies, por exemplo. Também reforça esta minha preferência o fato de que o sexo, ao contrário das drogas, não debilita. Ok, estou falando de sexo num determinado contexto, mas é neste contexto que estou fazendo a comparação: o da transcendência. O que proporciona mais com prejuízo menor (ou nenhum prejuízo)?
Alguém me disse certa vez - por ocasião de uma conversa sobre Dostoiévski - que o prazer causado pela expectativa de vitória no jogo é comparável em intensidade ao de uma dose de cocaína. Fiquei pensando: caralho... será que alguém já mediu a intensidade do prazer causado por um orgasmo (ou em bom e velho português: pela satisfação de uma trepada homérica)? Claro que sim... é impossível que já não tenham feito isso. Eu deveria ter dado uma fuçada no Google antes de escrever este texto. Agora azar. Buenas, eu li O Jogador e também algumas declarações do velho Fiódor sobre a sensação incrível que vinha, às vezes, depois de uma crise de epilepsia. Se você também leu isso, deve estar pensando: será que o imbecil do Telmo não percebe que o prazer maior, o êxtase, é uma coisa muito pessoal e varia de pessoa pra pessoa? Pra alguns pode ser o sexo, mas pra outros será o jogo, pra outros as drogas, etc, etc. Ok, mas se você leu Noites Brancas, vai pensar o que? Se leu Crime e Castigo ou Os Irmãos Karamazov (este sim, uma mistureba fantástica dos principais elementos do universo dostoievskiano)? O Dostoiévski não serve de parâmetro. O cara conseguia extrair prazer das síncopes e catarses mais diversas. Senão, o que dizer das experiências de Notas do Subterrâneo, por exemplo?
Mas tá... até concedo que talvez sexo não esteja na mesma categoria de outras experiências caracteristicamente transcendentais, todavia se falamos de atos que nos deslocam da "realidade", que nos fazem sentir melhor (muito melhor) do que normalmente nos sentimos, o sexo - e disso, por observação, não tenho dúvidas - é o que está mais intimamente ligado à ideia de plenitude. Novamente, não estou falando do vasto universo das transas estúpidas e da depressão post coitum - assim como não estou me referindo só às bad trips quando falo de drogas - mas sim das "trepadas do século" (parafraseando o Michael Douglas). Por mais ineptos que sejam alguns amantes, as possibilidades da coisa não podem passar desapercebidas. Mas, voltando ao harém...
Há alguns anos li Justine ou Os Sofrimentos da Virtude, do Marquês de Sade. Já não lembro mais da história, mas um trecho do romance me deixou profundamente impressionado. Um misto de terror e excitação (donde depreendi que sim, não sou muito "normal"). Perdido no meio da floresta, um mosteiro é administrado por clérigos nada ortodoxos, digamos. Esses padrecos tarados e safados sequestram (rapto é a palavra mais adequada) mulheres para a sua satisfação sexual. As vítimas vão de mulheres plebeias até figuras da nobreza. Em comum, a beleza. Todas elas são deslumbrantes. A coisa é tão cruel que até mesmo meninas são raptadas. A história diz que nunca mulher alguma escapou do mosteiro (a tal Justine fugiu, mas não lembro como). Esse é o terror. Imagine você sendo uma princesa. Você se julga inatingível. Um dia você é raptada e nunca mais será vista. As depravações nos porões do tal mosteiro eram as mais terríveis imagináveis, iam de coprofagia à morte, passando por sodomização, espancamento, etc... enfim, o universo do famigerado Marquês. Punk, não é? Buenas, antes de alguém aí ligar pra polícia me denunciando, quero dizer que o que me excitou nesta história foi o vislumbre de um monte de mulheres lindas à disposição e não a maneira como eram tratadas. Mais ou menos como as pessoas que comem carne mas "não podem ver os bichos sendo mortos". Mulheres numa jaula (como diz a música do Vitor Ramil) é uma imagem forte. Num primeiro momento, atrai. Num segundo momento é que aparece a consciência. É meio triste constatar que somos mais atávicos do que supomos geralmente. Sexo sempre esteve naquelas zonas limítrofes entre o lícito e o ilícito, o saudável e o prejudicial, o moral e o imoral. Se você não é hipócrita (ou assexuado - e não estou emitindo juízo sobre isso), não vai negar que algumas vezes já se pegou dizendo: bah... como pude pensar numa coisa dessas? Sou da turma que acredita (vejam bem, acreditar não é concordar) na naturalidade do mal. Exatamente por isso, sou do bem, eu penso. O que faz com que não nos matemos todos (ou que pelo menos o mais forte não mate o mais fraco) é o moderador Estado ou variações do Imperativo Categórico Kantiano, que alguns (bem poucos) conseguem colocar em prática. Eu, modestamente, me incluo aí. Se estivesse no lugar do Raskolnikov, por exemplo, não teria matado a velha usurária (e nem a irmã dela, que era uma pessoa gentil e nunca é lembrada quando se conta esta história).
O homem é uma ponte entre o bestial e o divino, não é isso que dizia o Nietzsche? A ideia de um harém permanece agradabilíssima desde que você desconsidere os direitos e anseios das mocinhas do séquito, desde que você não esteja apaixonado e, claro - condição sine qua non -, desde que você seja, como o personagem do Truffaut, um homem que ama as mulheres. Trata-se de um "amor" um tanto suspeito... mas eis aí uma palavrinha que carece de consenso na sua definição.
P.S. me ocorreu agora que se pode pagar por um harém. Não resolve todas as questões éticas, mas atenua. Putz, tenho que ficar rico.
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Ops... meu avião!
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Um comentário:
Puta texto, MT...
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