Esse é o Totó, o cachorro lá da casa dos meus pais (esse nome ridículo foi meu pai quem botou). Às vezes fico pensando o que fica pensando um cachorro como o Totó. Cada um o trata de um jeito. Meu pai dá comida (por que o cachorro é dele), brinca e surra o cachorro (meu pai é um pouco agressivo, pode-se dizer). Minha mãe xinga o coitado do bicho o tempo todo. Ela odeia bichos. Meu irmão River nem sabe da existência dele. O River é indiferente ao mundo (acho que ele é uma forma mais evoluída de vida). Meu irmão Dani adora "judiar" do coitadinho. Aquelas brincadeiras de criança malvada, entende? Minha filha Melissa é como o River, não tá nem aí. Mas se ele se aproxima, ela tem medo. Minha sobrinha Larissa abraça, beija na boca, brinca, chacoalha, monta, desmonta, corre com ele... faz o diabo. Ela adora bichos. A mãe dela, a Michele, também trata os bichos com muito carinho. Acho isso bonito. Eu chego lá, dou um "oi" pra ele e faço um afago na cabeça. Gosto de bichos, mas sou como as prostitutas: beijo na boca, não.
Bom... dizem que os bichos adquirem as características do dono. O Totó tem um ar meio triste, como é o ar ensimesmado e melancólico que o meu pai - um legítimo escorpiano do bem e do mal - carrega desde sempre. O Totó fica trancado no pátio, mas não perde oportunidade de escapar e aprontar poucas e boas. Dia desses apareceu mais morto do que vivo em casa. A dúvida era se ele tinha apanhado de um Pitt-bull ou de um Hotweiller. Meu pai nunca apareceu neste estado, mas já teve seu tempo das escapadas (enfim, os pais são humanos). E assim é a vida do Totó. Me pergunto quantos anos ainda ele vai viver. Me pergunto se cachorros têm alma. Me pergunto se ele entende o que falamos (meu pai conversa com ele). Me pergunto se ele realmente enxerga em preto e branco - e como quem afirma isso pode ter certeza. Me pergunto se eles enxergam a aura das pessoas (gostaria de perguntar que tal é a minha). Me pergunto muitas coisas quando vou lá pra casa da mãe, pego um livro pra ler no gramado e vem o Totó se aninhar aos meus pés. É um cachorro simpático. Um vira-latas meio rueiro e vagabundo (e talvez muito de sua simpatia resida aí) que se fosse gente eu convidaria pra tomar uma cerveja. Falaríamos de mulheres e cadelas... de cadelas e mulheres.
Ah, muito certamente lhe emprestaria uns livros do Jack London.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Totó
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5 comentários:
Adorei o texto, realmente fiquei com vontade de conhecer o Totó, aliás penso que esse é um nome comum quando não se tem criatividade para dar nome a um animal (digo isso pq na minha família também tem um) mas sem apelar para Britney ou Sharon... algo como Pança ou talvez Piteco, sem claro exagerar, como uma amiga que saia a caça da sua gata fujona, gritando "Xaninha, cadê vc, volta Xaninha..." imagino a cena. Enfim se rolar a cervejinha com o Totó, me convida. Abraço Jamile Camargo
Jamile, o Totó anda numa fase meio caseira, mas tenho certeza que se ele ficar sabendo de um convite tão gentil, vai recuperar a veia boêmia e vamos todos falar muita besteira e rir muito.
Abraços.
Acho que te surpreenderia se dissesse que já tomei uma cerveja com o Totó, né?
River
Pois é! Eu sou que nem o Tio River? Não mesmo. Eu gosto do Totó, mas não fico xavecando-o, coisa de madame. Até pq quando eu era menorzinha o Totó me visitava na casinha, rsrsrsrs!
Oi Mario!
Sou o Ricardo e nesse final de domingo (ops! Já é segunda) to aqui no seu blog dando uma lida no texto do totó. Gostei cara. Nâo sei te falar exatamente porque mais gostei. Texto simples. Rápido mais deixou-me pensativo. É isso ai cara! Excelente blog!
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