domingo, 9 de dezembro de 2012

Não se dê ao trabalho...


Aqui na praia confirmei o meu talento pra solidão. Passo dias, semanas até, sem falar com ninguém. Um que outro telefonema e era isso. De vez em quando bate uma deprê, mas passa rápido. A verdade é que sou um velho num corpo de jovem (concedam isso, por favor... 41 é jovem), gosto de silêncio e tranquilidade. Vivi durante muitos anos aguentando vizinhos detestáveis que enchiam o mundo de som e fúria (som deles, fúria minha). Me livrar disso foi a melhor coisa que fiz nos últimos tempos. Devo ter algum problema de ouvido ou nervos, algum tipo de hipersensibilidade, porque em quase todos os lugares onde morei (e foram muitos) rolou algum stress por causa de barulho. Agora estou muito bem, obrigado. Minhas eternas alergias desapareceram, meu rosto está limpo, sem coceiras. Meus olhos também. Claro, além do stress com o barulho, me livrei do trabalho explorador, me livrei da poluição da cidade, me livrei dos malditos fumantes (com o perdão dos meus amigos que fumam), me livrei de acordar cedo (na real, não durmo demais... apenas meu relógio biológico é diferente. Leiam esta interessante reportagem sobre esse assunto). Levo a vida tranquila que todo mundo deveria levar. Todo mundo que anseia por um tipo de vida assim, pelo menos.
Outra coisa boa de viver sozinho é que a gente PENSA muito mais. Claro, quanto a isso, mais importante do que viver só é poder viver pra si. Ou seja, não ser um escravo do trabalho. O filósofo Aristóteles já defendia a necessidade do ócio para os que se pretendiam filósofos. Tá, nem todo mundo quer ser filósofo, mas ainda assim seria ótimo que a pessoas usassem um pouco mais da massa cinzenta, fossem capazes de fazer um tanto mais de auto-crítica, conseguissem se distanciar dos preconceitos, senso comum, condicionamentos da tv e jornais, argumentos sofistas, falácias, falta de encadeamento lógico de ideias, etc. Leitura e ócio... e todos os problemas do mundo tavam resolvidos. A propósito, resolvi reproduzir um pequeno texto que li na internet. É curto e diz quase tudo o que penso. Por favor, leiam, É IMPORTANTE!!!:

É preciso abrir mão da perspectiva judaico-cristã que vê a vida ociosa como a mãe de todos os vícios e apenas como uma justa recompensa pelo trabalho realizado. O ócio não precisa de justificação moral. E o trabalho não precisa ser visto como a realização da essência humana em sua plenitude.
Com esta proposta, o filósofo e professor da Unicamp Oswaldo Giacoia Junior encerrou sua apresentação intitulada "Dizer sim ao ócio ou 'viva a preguiça!'", na noite desta quinta-feira no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. A conferência faz parte do ciclo "Mutações - Elogio à Preguiça", organizado por Adauto Novaes.
Giacoia iniciou sua palestra trazendo à tona o pensamento transgressor de filósofos como Deleuze, Russell, Bloch, Marcuse. Criticou o que chama de "utopia do lazer" --excesso de consumismo, a indústria do entretenimento, e executivos, dirigentes e profissionais liberais que buscam a otimização do tempo nos momentos de ócio.
"Passamos a vida cumprindo tarefas e demandas sociais. A hiperatividade moderna faz de nós todos seres covardes e indolentes. Em nenhum outro tempo os homens ativos --ou intranqüilos--, valeram tanto. O resultado é a escravidão mental", acrescentou o filósofo, citando Niestzche. "Todos os homens se dividem, em todos os tempos e também hoje, em escravos e livres; pois aquele que não tem dois terços do dia para si é escravo, não importa o que seja: estadista, comerciante, funcionário ou erudito".
Depois, concluiu: "É claro que a vida em sociedade é impossível sem o trabalho. Mas o problema é saber quando o trabalho realiza e quando ao contrário, nega a essência do trabalhador".
Giacoia também fez um convite às maneiras filosóficas de viver o ócio. "É preciso encará-lo como dissipação e não esbanjamento do tempo. Se alguém não é capaz de viver um tempo inteiramente seu, então não tem condição de se abrir para o outro. O nada abre a possibilidade para vivências mais radicais, para as experiências mais singulares sobre o que cada um é capaz de fazer. E nos coloca diante da perspectiva da existência finita e mortal".

Eu li "Elogio ao Ócio", do Bertrand Russell, e também "Manifesto Contra o Trabalho", do Grupo Krisis (série Baderna, da Conrad). Queria muito, mas de todo coração mesmo, que as pessoas lessem essas coisas. O mundo é um festival de equívocos e as pessoas parecem um bando de loucos, insanos, dementes... fazendo coisas prejudiciais porque foram convencidas de que eram boas. O trabalho e a religião certamente os dois maiores destes equívocos.
Em breve devo voltar a vender minha alma em alguma empresa por uns míseros trocados pra pagar aluguel, pensão da minha filha e outras poucas (poucas mesmo, não sou um imbecil consumista) coisas, mas faço isso oprimido, esmagado por essa porra de engrenagem que é muito maior do que eu. Tanto pior fica o negócio quanto mais crítico o sujeito é em relação à coisa. A vontade é de chorar, juro. Além da merda do trabalho aguentar as "opiniõezinhas" do mundo ao redor. Aguentar as músicas (?) de débeis-mentais do mundo ao redor. Aguentar os facebooks e os papos sobre a nova novela das oito ou a pontuação do "timão". Aguentar a manada, a massa acéfala que se compraz em ser estúpida.

Meu rosto vai ficar cheio de perebas.