quarta-feira, 27 de julho de 2011

Poema aos homens com gripe

Peguei um gripão. Não dormi de domingo pra segunda, nem de segunda pra terça. Febre, dor de cabeça, tremedeira, tosse. Um gosto ruim na boca, as coisas perdem o sabor. Enfim, cheguei a pensar que fosse a tal Gripe A, também chamada H1N1, também chamada Suína, também chamada Influenza. Cada vez que fico doente, penso que vou morrer. Só muito recentemente fui descobrir que isso é uma característica comum aos homens (putz...). Ainda acho que a dor dói mais em mim, mesmo assim resolvi publicar esse poeminha que achei na internet e que tira um sarro dos "candidatos ao túmulo" como eu. E porque é do António Lobo Antunes, e isso não é pouca coisa.


Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

António Lobo Antunes

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Facebookeanas...

O fato de eu ter entrado no Facebook colabora bastante na diminuição das postagens por aqui. Agora polemizo por lá e esqueço do blog. Buenas, é hora de inverter isso. Publico abaixo meu comentário ao post de uma amiga lá do Face (publico o post dela também).

Os aficcionados que me crucifiquem, mas por favor, não sem antes me explicar, preferencialmente de modo conciso e convincente, como é que aguentam assistir a mais de 3 minutos de novela. Tenho grande interesse antropológico nisso porque, pelamor, que troço bem chato!

(aqui vinham uns trinta e poucos comentários...)


Ser conciso com um assunto desses é provavelmente impossível. Por que é difícil falar da coisa sem meter antropologia, comunicação, sociologia, filosofia (já digo por que) e etc no meio. Gosto se discute sim (e religião e política - esses que os relativistas adoram dizer QUE NÃO SE DISCUTE (PORRA, É O QUE MAIS SE DISCUTE!!!). Mas a coisa é simples, termina sempre na pergunta: é ético? Fazendo um resumo (bruto) do imperativo categórico do Kant, pode-se dizer "minha liberdade termina onde começa a do outro". Delimitar isso é que é foda. Eu penso que uma novela (e os funks em geral, só pra citar outro exemplo entre milhares possíveis) presta um desserviço fenomenal pra evolução das pessoas. Não se trata só de estética. Estética não se justifica por si mesma. Uma novela é pensada a partir de uma realidade que já é completamente distorcida (do ponto de vista filosófico). Então o que ela reproduz são os anseios de uma gente pobre que adora ver gente rica, o merchandising rola direto (e viva o consumismo), as diversidades são tratadas superficialmente (caricaturadas quase sempre) e várias outras “liberdades” são tomadas em nome do entretenimento. Claro, novela ÉÉÉ entretenimento. Se as pessoas realmente quisessem aprender alguma coisa, assistiriam um programa cabeça (putz, existe isso na TV?). Mas ESTA é a questão. Que direito as pessoas têm a um entretenimento que dá corpo a um monte de equívocos e injustiças neste país maluco que é o nosso? E essa “lassidão” da vontade é, por si só, um problema a ser debitado na conta dos irresponsáveis da Televisão Brasileira. Pesquisas científicas já comprovaram que assistir TV causa uma espécie de dependência. Quanto mais o sujeito assiste, mais “plasta” vai ficando. É um troço físico mesmo. A novela foi só o gancho, na real acho que a TV é um grande vilão. Tem coisas boas (poucas), mas a imensa quantidade de lixo faz a gente pensar que é muito melhor mantê-la desligada. E sim, eu sei que tudo o que escrevi aqui dá margem pra discussões infindáveis. Sei que até numa fina flor da MPB a gente arranja assunto pra polemizar do ponto vista ético (minha briga nem é só com o funk). Sei que um programa como o Provocações (ainda existe isso?) pode muito bem fazer com que um ou outro perca as estribeiras. Enfim, se alguém souber de um mundo redondinho, perfeitinho, me avisa que vou correndo pra lá. Mas é foda ver a coisa toda descambando (violência, catástrofes climáticas, políticos safados, fundamentalismo religioso, cidades congestionadas, etc, etc) e notar que as pessoas que gostam de novela não percebem a sua parcela de culpa nisso. (Giselle, por favor, não dá meu endereço pra ninguém depois disso – rs).

terça-feira, 12 de julho de 2011

Just like you said it would be

Na semana passada apareceu em vários lugares uma foto atual da cantora irlandesa Sinéad O'Connor (pronuncia-se Shaineid Ó-cônor). Quando vi, pensei: putz... ela só tem 44 anos, não precisava ter descambado tanto assim. A moça, como boa porra louca que era (e ainda deve ser), provavelmente está cagando e andando para o que as pessoas pensam da sua (insuspeitada?) forma física, mas dá uma "dó no peito" quando a gente compara o antes e o depois. Em mim, principalmente, por que era apaixonado por ela. Gostava da voz, gostava de muitas músicas e, claro, gostava da figura dela (vejam só, uma mulher careca!). Tenho até hoje três discos dela em fita K7 (que não ouço, pq já não gosto tanto e pq não tenho um aparelho com toca-fitas).
Abaixo um videozinho que aprecio muito (e que coloca meu gosto musical sob séria suspeita, diriam alguns amigos). Com vocês, Sinéad O'Connor... era uma romântica apesar dos rompantes de rebeldia.



P.S. o título lá em cima é de uma música do disco "The Lion and The Cobra".