domingo, 16 de setembro de 2012

Meu caro amigo, me perdoe por favor...

E aí, Mimi. Agora tô com internet em casa (depois de muitos problemas) e vai ficar mais fácil a comunicação. De mim não tem muito pra contar. Vim morar na praia pq tava cansado. Cansado de ser explorado no trabalho, cansado de pagar aluguel. Vim pra cá pq não tinha outro lugar pra ir. Morar com os meus pais é impossível (embora meu pai esteja aqui comigo, fazendo obras na casa). Cidreira é uma cidade horrível. É a mais antiga do litoral gaúcho mas o atraso é impressionante. A infraestrutura também. Tudo fecha ao meio-dia. Pra ajudar (embora em muitos aspectos eu ache isso bom), nossa casa fica bem no fim da praia, longe de tudo. Um amigo do meu pai me conseguiu uma bicicleta velha (todas as bicicletas daqui parecem velhas devido aos efeitos da maresia) pra eu conseguir vencer as distâncias. Mas mesmo com uma bicicleta, nem sempre é fácil. As ruas são de pedras completamente irregulares, o que dificulta as pedaladas. Quando chove  (e tem chovido com frequência) muitos trechos ficam intransponíveis. Quase sempre tem um vento que deixa meus olhos irritados (pq junto com o vento vem a areia - areia, aliás, que já tá impregnada até na minha alma, impossível fugir dela) e também dificulta pra caramba as pedaladas.

Nas minhas primeiras semanas tive vários stress com o pessoal da agência de correios daqui. A incompetência é fenomenal. Os livros que vendo na internet são postados na modalidade "Registro Econômico" (ou Registro Módico). Tu não imagina o quanto de incomodação eu tive pra conseguir realizar o simples envio de um livro. Não vou entrar em detalhes porque me irrito só de lembrar, mas pra tu ter uma ideia, na última vez tive que ir a Tramandaí (40 minutos de ônibus) porque o sistema dos belezas tinha caído e eles NÃO TINHAM UMA TABELA FÍSICA para fazer a coisa sem o uso do computador. Enfim, aqui ainda estão na Era Mezozóica, mais ou menos. 
Fora isso, me transferi pra cá bem na época das eleições. Neste momento fico feliz de morar bem no fim da praia, pq aí então os caminhões de som não se dão ao trabalho de ir tão longe. Mas é horrível. Acontece aqui o mesmo que acontece em Canoas (e nas cidades pequenas ou nem tanto do Brasil inteiro, imagino): eles pegam uma música que já é ruim (sertaneja, pagode, funk) e adaptam uma letra enaltecendo o candidato. Então dá-lhe "eu quero um tchum, eu quero um tchá", "ai, se eu te pego", "kuduru" (é assim que se escreve essa merda?) e outros lixos que a massa acéfala ouve passivamente. Eu não sou o maior dos fãs do ECAD, mas esses caras não deveriam fiscalizar este tipo de coisa? Digo, essa apropriação desautorizada (imagino que seja desautorizada) das músicas desses "artistas"? Lá em Canoas (além de um cara que se elegeu vereador usando o nome e imagem do Pateta, da Disney) o atual candidato a prefeito pelo PSDB chegou a câmara, há alguns anos, depois de vários meses estourando os tímpanos das pessoas com um enorme carro de som que repetia à exaustão a adaptação de uma música idiota da igualmente idiota Ivete Sangalo. Esse cara depois se tornou o braço direito da Yeda Crusius, o que me levou ao seguinte raciocínio: Yeda Crusius, do mal. Braço direito da Yeda Crusius, do mal. Consequemente Ivete Sangalo do mal. Mas acho que pode se inverter essa ordem sem qualquer prejuízo... rs. 
Buenas, tô me dispersando. Voltando à vidinha na praia: internet foi outro problema. Esperei por meses uns sujeitos que prometeram uma conexão via rádio. Só me enrolaram. Como estava de saco cheio de pedalar até o centro todos os dias pra conferir meus emails (principalmente os pedidos de livros), decidi apelar pro 3G (completamente inseguro, pois os relatos sobre qual era a melhor operadora - ou a cobertura menos ruim - variavam muito). Numa loja da Vivo em Tramandaí fiquei sabendo da existência de um roteador. O negócio parece que funciona bem (é o que estou usando neste momento pra te escrever este email) e oferece os gigas do modem 3G por um preço mais em conta. O único porém é que não é completamente portátil (até dá pra levar, mas precisa de uma tomada pra funcionar - como ainda sou um neandertal que apenas usa o pc, tá de boa). 
Continuando: vim pra cá com a ideia fixa de tocar uns projetos de serigrafia. Demorou pra eu arriscar uma impressão de verdade, mas o resultado, depois de umas 5 camisetas velhas ficarem definitivamente inutilizáveis, até que foi bom. Estou nisso agora, corrigindo pequenas falhas, acertando dosagens de químicos, tempos de exposição, etc. Preciso comprar uma mesa “carrossel” para impressão serigráfica. Já procurei no Mercado Livre, mas aqui no RS parece não existir tal artefato. Fora a serigrafia, aproveito a total ausência de vizinhos próximos pra brincar pra valer com a minha bateria. Não digo que estou tocando (agora, com internet e uns videozinhos do YouTube, talvez eu acabe aprendendo), mas já é uma satisfação poder fazer barulho a pleno. Barulho, aliás, tenho feito também com a guitarra, o teclado e um trompete que um amigo emprestou (tchê, que instrumento mais complicado!!!). 
E o que mais? Tem uma cadela aqui comigo, a Luma. Ela é tri bonita, acho que é policial, ou capa-preta... não entendo muito de raças de cães, mas sei que ela parece um lobo. O problema é que além dela tem mais 4 cachorros que não saem da volta da casa. Aqui em Cidreira, cada quadra tem a sua matilha de cães abandonados. Dá uma pena, cara. O pior é que tem uns cachorros bem bonitos, uns gigantes que chega a dar medo de passar por perto. Eu tava disposto a cuidar da matilha da minha quadra, mas essas bandas que dou até os mercados pra buscar restos de carne (eu peço “carne pra cachorro”) me cansam e tomam um tempo danado (e custam uns pilas também). Além disso, estou tendo problemas com os pulguentos que não saem do meu portão. Eles ladram pra todo mundo que passa na rua, as pessoas pensam eles são meus. Um dos meus stress com o correio daqui foi porque o carteiro simplesmente se recusa a entrar na minha rua. Fui na agência buscar um livro que não chegava nunca. Na embalagem, a explicação do carteiro: cão solto. Não adiantou eu dizer que a porra do cachorro não era meu, que eu nada tinha a ver com o fato de o bicho andar a solta. Enfim, o problema maior é o abandono. Espero que chegue logo o verão (com seus veranistas) e que eles debandem pro portão de alguma casa que tenha mais a oferecer (eu nem sequer como carne, pô!).
Tenho ido a Canoas/Porto Alegre numa média de duas vezes por mês, mas quero espaçar mais estas viagens. Apesar de aproveitar pra comprar coisas, ir ao dentista e garimpar livros, perco muito tempo na “capital”. Prefiro ficar aqui, enfurnado no silêncio desta casa ao lado das dunas (é um cenário bonito). A Melissa não gostou muito desta minha mudança, mas vamos nos adaptando. Neste fim de semana ela vem pra cá. Eu agora só volto à cidade pras eleições. Com muitas ressalvas, darei meu voto pro Jairo Jorge. Vereador ainda não escolhi. Estou mais curioso com o resultado de Porto Alegre.
Dia destes acabei ficando uma semana inteira por aí (desculpe por não ter feito uma visita). Fiquei porque o pessoal do Diário de Canoas (a primeira turma) organizou um encontro – no fim de semana subsequente ao da minha estada - pra comemorar os 20 anos do jornal. Achei que era melhor ficar do que fazer mais duas viagens (e gastar – agora sou um homem desempregado). Foi bem legal, Mittmann. Estavam lá o Dejair, o Lourenço, o Flávio, o Elias, o Nauro e o Ricardo, um fotógrafo que já tinha saído do DC quando eu entrei. Da turma feminina vieram a Stela, a Naná, a Valéria, a Raquel e a Marília. Enfim, toda a redação original. Além destes estavam a Rita e a Sherelia, que eram da circulação, se não me engano. Foi um encontro massa. O Nauro escreveu um texto bem legal, ilustrado com as fotos do dia, no blog dele. Clica aqui, que tu vai ver. Muita gente mudou (claro, foram quase duas décadas) e eu fiquei meio baqueado, nenhum outro acontecimento nas minhas atividades recentes fez com que caísse tão sonoramente a ficha de que eu sou um quarentão. Mas foi tudo ótimo. Tão ótimo que eu bebi demais e terminei vomitando. O Lourenço foi extremamente gentil e me levou pra casa (o encontro foi no Italianíssimo, mas já estávamos então em Porto Alegre). Eu poderia te contar detalhes sobre a vida atual de cada um deles, mas aí este email, que já tá extenso pra caramba, ia ter o dobro do tamanho, Mimi. Então vou deixar essa conversa para quando nos encontrarmos pessoalmente.
De resto, espero ter satisfeito a tua pergunta sobre como anda minha vida. Claro que muitas coisas não escrevi aqui. A verdade é que estou pensando em colocar este email no meu pra lá de abandonado blog (espero que tu não te importe) e preciso cuidar pra não ficar contando de cada vírgula, de cada suspiro do meu dia-a-dia (o que tornaria enfadonho algo que já não é lá muito excitante).
Um abraço pro Lorenzo (que já deve estar bem grandão) e um beijo pra Weridiana (ela vai votar nos direitosos este ano?).
Abração, Mittmann.

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