segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um fim de semana

Sábado, acordo tarde. Quase meio-dia. Mesmo assim, tomo um café. Vou almoçar lá pelas 3, 4 da tarde. Saio. Tenho que pegar uns livros que deixei reservados no sebo e também quero acessar internet no meu trabalho (isso tudo a umas três quadras do meu apê). Dos dois livros que tinha reservado, só pude pegar um. Grana insuficiente. Livros caros, mas que valem ainda mais. Pretendo vendê-los no Estante Virtual. Um deles, da Simone de Beauvoir: “Memórias de Uma Moça Bem Comportada”. A guria da loja, minha amiga, disse que o livro é sobre a vida dela. Rimos os dois. Não existem mais moças bem comportadas. Assim espero, pelo menos. Na empresa, a internet fora do ar. Penso em mexer nos hubs, roteadores, servidores e sei lá mais o que, mas desisto da idéia. Certamente ia fazer merda. É uma pena, precisava pesquisar o preço de uns livros que vi ainda num outro sebo. Um Adorno, um Bertrand Russell, um Sérgio Buarque de Holanda, um W. B. Yeats e um Blaise Cendrars. Decido pegar uns desenhos que estou fazendo e levar pra casa. Mas não estou com o meu pen-drive. Procuro um por lá, não acho. Saio. Vou pra uma lan-house no shopping Rua da Praia e aproveito pra ver a programação de cinema. Sempre que vejo um filme é ali, ou no Vitória ou na Casa de Cultura Mario Quintana. Os baratinhos. Quero ver esse último do Brad Pitt, mas não tá passando. Acesso a internet ligeirinho. Exceto pelo Adorno, nenhum dos livros que vi valia a pena pra revender. Olho meu email. Vendi um livro. Oba! E dos mais carinhos. O Estante Virtual inventou uma porra dum pagamento online. Agora, além dos 5% que o site cobrava, esse PayPal filho da puta me come mais 7%. E fica com a minha grana guardada. Só posso retirar acima de R$ 250,00, ou pagar R$ 3,00 por transferências de valores menores. Odeio cartões de crédito e odeio estes intermediários que ficam cobrando por “serviços” que não pedi pra inventarem. Eu sei, as pessoas adoram usar seus cartões. Dizem que “facilita a vida”. Vão tomar no cu, todo mundo. A gente deveria andar com dinheiro no bolso e só gastar o que pode.
Buenas, de qualquer maneira, tá ficando desinteressante esse meu esquema de venda de livros. Ainda mais que os sebos antes sem noção onde eu garimpava agora estão mais antenados para o valor de alguns títulos. Sim, é uma espécie de picaretagem isso que eu faço, mas mesmo assim, muita gente foi feliz com ela. Desde 2007 vendo livros pro cantos mais remotos do Brasil. Meus preços lá no EV são os mais baixos. Um cara lá do Piauí comprou um livro que ele queria muito e pagou metade do que pagaria numa loja de novos ou mesmo no EV.
Voltei pra casa. Fiz um rango. Botei rolar – aleatório - uma seleção de músicas no computador (Bob Dylan, Johnny Cash, Crosby, Stills & Nash, George Harrison e a trilha sonora de I’m Sam) e fui organizar uns desenhos que quero usar pra fazer estampas de camiseta (minha idéia fixa do momento pra virar chefe de mim mesmo). Quando as músicas chegaram ao fim, tentei tirar um som que a minha filha pediu: I’m Yours, de um tal de Jason Mraz. Ela quer gravar um vídeo e apresentar na festa de 15 anos de uma prima (que adora a música). Coisa simples, um reggaezinho com basicamente quatro notas, ainda assim tô apanhando pra tirar. Na música sou um embuste total. Mas o aniversário é em setembro. Até lá, sai.
Desisti do reggae e decidi olhar o último episódio do Big Bang Theory, que toda semana um colega de trabalho baixa. As legendas (mesmo pra mim que sou uma anta em inglês) às vezes deixam a desejar, mas é legal mesmo assim. Sempre rio muito, é genial. Depois fui cortar as unhas dos pés, que já estavam quase furando as meias (odeio cortar as unhas dos pés – principalmente a do dedão direito, que cresce encravada). Depois fui passar fio dental por baixo de uma ponte fixa que estou usando. Os dentes que sustentam a coisa foram desgastados e ficaram sensíveis. Dói usar a porra do fio dental. Aliás, também odeio passar fio dental. Depois fui arrumar o quarto, que tava foda. Depois lavar uma louça e torcer umas roupas que tavam de molho há quatro dias. Lavar roupa é um saco! E quando vi já era bem tarde. Hora de jantar. Meu colega de apê saiu, aproveitei pra ver um filme pornô. Me masturbei, claro. Filme bom como há tempos não via. Atrizes bonitas e convincentes quando faziam caras de prazer e fingiam orgasmos (tenho dúvidas se não eram orgasmos de verdade). As cenas bem feitas (do jeito que eu gosto, pelo menos). Tinham pelos pubianos as moças, o que não é muito comum em filmes pornô (algum imbecil, algum dia, inventou que aquela região fica melhor depilada... tsc, tsc, tsc).
Dia cheio. Escovei os dentes e fui dormir. Meus vizinhos de cima, monstros do inferno, fizeram barulho até umas duas da manhã. Na real até umas três, porque teve a história de atrasar o relógio pelo fim do horário de verão. Porra, adoro o horário de verão. Por mim, não acabava nunca. Aliás, acho que é exatamente nas outras estações que ele deveria vigorar. Se no inverno anoitece mais cedo, então é mais sensato que tenhamos a ilusão de que são 20h quando na verdade são 19h, não concordam? Quando eu governar o mundo, isso vai mudar.

Domingo. Acordei tarde de novo. Tomei café, de novo. Fui ler um pouco. Terminei uma antologia de contos - organizada pelo Sergio Faraco - intitulada “Contos Brasileiros”. Boas surpresas tive ali. A melhor delas um tal de João Antônio e o conto “Meninão do Caixote”, extraído do livro “Malagueta, Perus e Bacanaço” (que já possuí, mas ignorei totalmente). Duas decepções: um Moacyr Scliar e um Sérgio Sant’Ana (dois dos maiores, mas os contos escolhidos... fracos). Também comecei a leitura do livro “Um Escritor no Fim do Mundo”, relato da viagem que o (também escritor) Juremir Machado da Silva fez à Patagônia com Michel Houellebecq. Dois caras estranhos numa terra estranha (a do Fogo), o livro pode ser interessante. Eu, já de cara, dispensaria as páginas de fotos. Coisa muito sem graça é ver gente posando com geleiras ao fundo. Aliás, gente posando em qualquer circunstância é uma coisa de gosto meio duvidoso.
E no banheiro mantenho o livro “Notícias da Chácara”, do paranaense Domingos Pellegrini. Um bom livro. Vou lendo e aprendendo coisas que pretendo aplicar quando fugir da cidade (e dos seus debilóides) pra uma chacarazinha em algum lugar retirado.
Já que estou falando em livros, um adendo - os títulos que encarei desde aquele meu levantamento de todas as minhas leituras: Trilogia Suja de Havana – Contos, Pedro Juan Gutiérrez (o primeiro dele e o melhor dentre todos que li); O Mundo Fora dos Eixos – Crônicas, Bernardo Carvalho (sensacional... o cara é foda); Medo e Delírio em Las Vegas – jornalismo gonzo, Hunter Thompson (massa pra caralho, me deu vontade de usar drogas (eu, o maior dos caretas)); O Zen nas Artes Marciais – relatos, Joe Hyams (bem legal, embora pareça auto-ajuda) e os quadrinhos “Daytripper”, dos irmãos Ba e Moon (boooooring... esses caras desenham pra caralho, mas suas estórias, cheias de sensibilidade e intimismo, me dão no saco – são uma espécie de Los Hermanos dos quadrinhos, uma coisa quase gay... e quase gay é gay demais pra minha cabeça) e 100 Balas, de Eduardo Risso e Brian Azzarello (fenomenal, coisa boa mesmo, bem diferente dos alardeados – e idiotas – Brian Vaughan e Mark Millar (entre outros)).  Também reli algumas coisas: os quadrinhos “O Cavaleiro das Trevas” do Frank Miller (que além de seminal é, até hoje, uma coisa sem paralelos, sem comparações) e Prelúdios e Noturnos, do Neil Gayman (deleite sempre garantido). Também reli os livros “Partículas Elementares”, do supracitado Michel Houellebecq, e “Até o Dia em que o Cão Morreu”, de Daniel Galera. Acabei relendo estes porque um belo dia me vi pegando um ônibus pra praia logo após ter saído de um sebo onde encontrei-os por um preço bom para revenda. Foi providencial, pois não havia pego nada pra ler. O Galera é bom (dos três que li dele, é o que mais gosto) mas o Houellebecq, relido dez anos depois, me decepcionou um pouco. Devo ter lido mais coisas, mas esqueci ou não julgo digno de nota (como os quadrinhos “Bordados”, de Marjane Satrap e “Aya de Yopougon”, de Abouet e Obrerie, por exemplo)
Bom, continuando com o domingo.
Depois de ler esse tanto, decidi sair e comprar coisas pro almoço. Precisava de ovos. Na esquina do boteco encontro um passarinho caído no chão. Pequenino ainda, pouco mais que um filhote. Pego o bichinho e seguro firme para que não escape. Pretendo levá-lo pra casa e alimentá-lo com pão (integral, com sementes) até que tenha condições de voar de novo. Ele se agita um pouco. Passo o dedo na sua cabeça tentando acalmá-lo. Então vejo que ele faz mais força, tenta se debater. Cogito largá-lo no galho de alguma árvore, mas então, sem mais nem menos, ele morre. Simplesmente para de fazer força e a cabecinha desfalece, completamente mole, para o lado. Senti uma tristeza imensa. O bicho morreu na minha mão. É uma sensação horrível (me lembrou o trecho do livro do Daniel Galera, onde o personagem fica observando os últimos minutos do seu cachorro, tentando captar o momento exato em que a vida abandona o corpo do bicho). Fiquei abatido. Larguei o corpo inerte no pé de uma árvore e fui comprar minhas coisas. Na volta ainda olhei o bichinho, uma esperança de que tivesse sido só um desmaio (se é que bichos desamaiam). Aos 40 anos – nunca antes - uma criatura morreu na minha mão, que coisa estranha e triste!
Em casa fiz um rango. Pretendia nadar à tarde. Olhei o celular, ainda com o horário de verão, e decidi ver um filme antes de ir pro clube. Tinha no computador um documentário esperando já há algum tempo pra ser visto: “Quem Matou o Carro Elétrico”. O nome diz tudo. Um filme sobre o porquê de um projeto de carro movido a energia elétrica – desenvolvido pela GM – não ter vingado. Não vou contar o filme, mas é aquilo tudo que já sabemos: interesses das grandes montadoras, do mercado de petróleo e dos conchavos entre políticos e grandes empresários. A filhadaputice de sempre. O curioso neste caso é que a GM chegou a desenvolver o carro, produziu centenas deles, repassou para clientes (satisfeitíssimos com a aquisição) e depois, quando por alguma razão obscura resolveu abortar o projeto, retirou um por um das ruas e mandou todos pra uma daquelas prensas que transforma carros em blocos de metal retorcido e vidro estilhaçado. Será que existe coisa mais assustadora que um americano engravatado? Juiz, advogado, empresário, político, publicitário... estes tipos são terríveis em qualquer lugar, mas os americanos parecem infinitamente piores. Sou maniqueísta, foda-se! Pra mim esses caras são o mal encarnado (quem leu Elektra Assassina tem uma idéia do que estou – metaforicamente – falando).
Buenas... fui nadar. No caminho passei no super pra comprar sabonete. Depois, na rua, encontrei um ex-colega de trabalho, o Ben-hur. Estava conversando com ele quando surgiu uma guria - amiga de um amigo – que conheci nas famosas noites de terça, no Tutti, o bar dos cartunistas na escadaria do viaduto da Borges. Ela disse “oi, Telmo” e eu me impressionei por ela lembrar meu nome, algo que todo mundo esquece por achar “diferente”. Já eu não lembrei o dela. Quando estou conhecendo alguém, lembro sempre do signo, quase nunca do nome (claro, signos são só doze). Geminiana, essa. E bonita. Achei-a mais bonita do que quando a conheci no bar. Já íamos entabulando uma conversa quando ela se deu conta de que esquecera a carteira em casa. Poxa... e eu que já ia desistindo da natação. O jeito foi me encaminhar. Esperança de ver alguma gostosa na piscina. Mas que nada! Tava devagar. Melhor assim, talvez. Piscina cheia é um saco. Nadei meus mil metros (crawl e costas) em 45 minutos e voltei pra casa. Tomei um café e decidi ver um filme que o meu colega de apê emprestou: O Expresso da Meia-Noite. Antigo, mas eu nunca tinha visto. Foi legal. Nisso passaram mais duas horas. Depois sentei na frente do PC e resolvi escrever este texto. Acho que estou há umas três horas nisso. E por quê? Sei lá. Provavelmente ninguém lê uma coisa destas, só tem interesse pra mim. É uma forma de loucura, desconfio. Sei que não sou muito normal. Desperdiço uma energia danada em coisas infrutíferas. Agora vou fazer uma janta (leve, pois estou com gastrite de novo), aparar minha barba, raspar minha cabeça, escovar os dentes e dormir. Espero que seja uma noite boa de sono (com gastrite, tenho pesadelos horríveis).
Mais um fim de semana na minha vida. Já tive melhores e já tive piores.

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