terça-feira, 16 de setembro de 2008

Obrigado, Bandeira!

Não sou um bom leitor de poesia, nunca escondi isso de ninguém. Prefiro a prosa. O Caetano Veloso - e muita gente mais - acha que a poesia é superior. Eu desconfio que é mesmo, mas continuo prosaico. Sou capaz de gostar de alguns poetas (Fernando Pessoa, Ferreira Gullar, Drummond e Manoel de Barros, principalmente), mas os poetas maiores me incomodam terrivelmente. Já disseram que poesia não é pra ser entendida, mas sentida. Isso não me basta. Leio alguns trechos de T. S. Eliot, outros de Rimbaud, outros ainda de Rilke e, como entendo muito pouco, acho chato. Já li de cabo a rabo Uma Temporada no Inferno e Illuminations, do Rimbaud, pra ver se na insistência alguma coisa em mim despertava, mas foram horas de leitura estéril. Tenho lá em casa muitos livros de poesia sobre os quais pretendo um dia - quando tiver evoluído o bastante - me debruçar. Por enquanto permaneço com os romancistas, contistas, dramaturgos e cronistas de sempre. Uma prosa poética até encaro.
Mas, vejam só, de vez enquanto alguma coisa acontece no meu coração. Ontem comprei um livro do Manuel Bandeira intitulado "Meus Poemas Preferidos". Trata-se de uma seleção que o autor fez de alguns de seus melhores poemas com outros que traduziu. Tem uma turma bem eclética lá. Dos poucos que eu conhecia (pelo menos de nome), cravei os olhos num poema de Emily Dickinson intitulado "Beleza e Verdade". Amiguinhos, creiam, é lindo. Lembrei então que tinha um pequeno volume da Emily publicado pela L&PM Pocket e corri procurar. Beleza... lá estava o tal poema, em português e no original (ah, as edições bilíngües). Não, não entendo muito de inglês, mas valorizo este tipo de coisa por que a poesia, muito mais que a prosa, agrega um valor adicional pela sua musicalidade, ritmo, rimas, beleza de certas palavras, etc, etc, etc. Por melhor que seja uma tradução, é sempre uma outra obra. E eu posso vir a aprender a língua de Milton qualquer dia, ora essa.
Bom, o poema fala, entre outras coisas, que beleza e verdade são iguais. Eu, intuitivamente, sempre gostei desta idéia (e juro, já gostava antes de ter lido essa mesma afirmação num diálogo platônico - Górgias ou Teeteto). Claro que tenho uma dificuldade enorme pra explicar coisas como a Jennifer Lopez ou a Jessica Alba - seres nos quais vejo muita beleza, mas pouca ou nenhuma verdade - mas isso não tira nem um pouco da beleza (e da verdade?) do poema em questão. Portanto, para enriquecer a vida de todos os meus amados amigos que de vez em quando passam por aqui, eis o poema:

Beleza e Verdade

Morri pela beleza, mas estava apenas
No sepulcro acomodada

Quando alguém que pela verdade morrera

Foi posto na tumba ao lado


Perguntou-me baixinho o que me matara:

"A Beleza", respondi.

"A mim, a Verdade - são ambas a mesma coisa,

Somos irmãos".


E assim, como parentes que certa noite se encontram,

Conversamos de jazigo a jazigo,

Até que o musgo alcançou nossos lábios
E cobriu os nossos nomes.


Emily Dickinson

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